sábado, 2 de junho de 2018

Com asas



Foi a primeira vez que fui interrompida na moderação de uma mesa redonda por punhos erguidos, gritando "Lula livre".  Mais tarde, "Catalunha Independente". Só faltou um português começar a cantar a Grândola. A verdade é que a cantamos depois todos juntos em pleno jardim. E juro que era um congresso académico puro e duro. Mas as pessoas andam inquietas, preocupadas, indignadas. Não sei se uma direita mais e mais conservadora dará azo a uma esquerda mais radical, mais revoltada.

A mim a revolta não me dá para grandes gritos, mais para silêncios e lágrimas. Aconteceu-me na mesa final dedicada aos direitos humanos.

Mas não foi um tempo triste, apesar destes traços indignados, imperou a alegria de uma comunicação em múltiplas línguas: catalão, galego, castelhano, basco, português do Brasil, português de Portugal. E a alegria de estar com aquele pequeno grupo que trilhou um percurso académico em conjunto sem perder elos de companheirismo e amizade.

E ir, ser capaz outra vez de ir, dos aviões, da exposição pública, de comer com os outros em sítios públicos e quase o mesmo que eles. De andar e andar numa cidade desconhecida, de aguentar o cansaço.

As asas, acho que já não as quero deixar.

~CC~




2 comentários:

  1. Que bom, CC. :)

    Abracinho aqui do Norte.

    (Fico com vontade de regressar a Barcelona, onde cheguei a primeira vez no fatídico dia do atentado.)

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  2. Que triste chegar nesse dia, deve ter sido assustador! Mas também não tem sido fácil agora, a tensão entre independentistas e não independentistas sente-se. E o medo do terrorismo também. Fiquei surpreendida pelo controlo nas estações de comboios ser praticamente igual ao do aeroporto.
    ~CC~

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