terça-feira, 14 de agosto de 2018

Sorriso de Agosto



Uma sala mais simpática do que a do bloco operatório. Um pouquinho menos gelada e mais larga. O centro clínico mais vazio (ai, as vezes que fui corrigida por lhe chamar hospital).

Estamos ali no meio de agosto, eles e eu. Não estamos na praia, não estamos nas Ilhas Gregas, nem em Bali. Fazemos o que nos compete, o que tem que ser feito, não lamentamos, não nos lamentamos. Recordamos há quanto tempo foi a operação e o que se lhe seguiu, o mau desfecho, as dificuldades, a luta e depois as pequenas vitórias, falamos nelas como qualquer coisa feita em comum.

Apesar de estar há um dia sem comer e com o intestino bem limpo como eles exigem, apesar do receio que sempre tenho relativamente aos resultados do exame, estou estranhamente calma, resignada, compreendendo que o futuro tem que passar por aqui se quiser ter futuro. Como tudo foi diferente no exame de Agosto de há três anos atrás, estava extremamente ansiosa e acho que só eu não estranhei o resultado, antecipava-o, sabia-me doente.

Sei tudo o que tenho que fazer, o modo como me devo deitar, colocar a perna e o braço, quase posso adivinhar o tempo que demorarei a adormecer e que sonharei, sonho sempre quando sedada e acordo a lembrar-me que estava a sonhar para depois tudo esquecer rapidamente. A única coisa que não sei é o que dirá o médico desta vez quando vier ter comigo ao recobro. Ele é rápido, incisivo, e desta vez sorri. E eu posso sorrir também.

~CC~


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