domingo, 13 de outubro de 2019

Folia



Gosto desses lugares onde os escritores se mostram ao mundo. Mas respeito imenso também quem não se mostra. E há quem cante as letras dos escritores, dando-lhes ainda mais sentido. Por isso vou ao Fólio sempre que posso. Raramente dou o tempo por perdido. Magnífico, por exemplo, ver o presidente cabo verdiano que é poeta também a ler um texto denominado "A banquinha" (assim chamada em Cabo Verde, mas é "mesa de cabeceira" em português de Portugal e "criado mudo" em português do Brasil). Um presidente que esteve muitas vezes presente, não foi lá só ler os poemas dele, esteve várias vezes na plateia só a ouvir. Uma raridade nos dias de hoje em que as pessoas só vão às coisas para se ouvir a si próprias.

Ouvir ler alto quando quem o faz bem é muito bonito, as palavras soltam-se sonoras, saborosas, um encanto. 


Mas às vezes há limites, há exageros. E há autores que lêem mal a sua própria poesia. E há autores muito novinhos que já falam de si como se fossem um prémio Nobel. E mostram a sua agenda intensa como se a vida já lhes tivesse mostrado muito mais do que mostrou. Como diriam os nossos irmãos de além mar, o que é bom de repente fica ruim. Também há disso e é pena. E folia, folia eles têm pouca, parecem já ter nascido sérios e empertigados.

Gosto de escritores que para além de nos contarem a tristeza profunda que os habita, sabem rir.

~CC~





7 comentários:

  1. Talvez tendamos a endeusar os escritores. E, no fundo, eles são iguais a qualquer outra pessoa, uns com mais, outros com menos defeitos. :)

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  2. Como gostaria de também lá ter estado, se bem que eu não aprecie multidões o amor aos livros ter-me-ia feito esquecer o resto.
    É estranho quando o autor não sabe ler bem a sua própria poesia, mas por vezes acontece (já constatei), e é muito triste :(
    Espero que, apesar do que refere, o balanço da visita tenha sido positivo.
    Semana Feliz.

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  3. Desconheço o Fólio, mas se lêem poesia há-de ser coisa de valor. Também não conheço esse presidente poeta e que sabe ler e ouvir poesia. Em geral, gosto das entrevistas e conversas de escritores. Parece-me que, quase sempre, acrescentam alguma coisa ao mundo. Quanto a serem bons leitores - de poesia ou prosa - não é uma relação directa. Muitas vezes o criador lê pior o que escreveu que qualquer diseur que o interprete. O esforço de quem escreve é o texto.
    Gente nova das letras não costumo ouvir. Mas admito alguma imodéstia.
    Boa semana, CC:)

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  4. É verdade Luísa, mas talvez faça parte do encanto.
    Maria, não há propriamente multidões, muito menos nos eventos literários em si.Gostei sim, boa semana também para si.
    Bea, não podemos conhecer tudo, há coisas que nos escapam, mas o Fólio é mesmo o maior evento de literatura a nível nacional. Para si uma coisa que ouvi lá: https://www.youtube.com/watch?v=oAvgQGxCYrA. A letra é do...
    ~CC~

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  5. Conheço bem Óbidos, fui lá várias vezes, sempre em dias calmos.
    Pensei que o Folio atraísse muita gente, assim estilo Correntes d'Escritas.
    Erro meu, o que atrai mesmo multidões é a Feira do Chocolate e a Feira do Natal, a julgar pelo que vejo na tv.
    Acho bonito termos uma Vila Literária e gostava de lá voltar e ver aquelas livrarias tão originais.
    Talvez consiga...

    Terça feliz, ~CC~.
    🍃🍁🍃


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  6. Obrigada, CC. Oiço e parece-me que a voz de Cristina Branco voltou a um estilo que me conquistou quando surgiu no nosso panorama musical. Lobo Antunes, que diz não ser poeta, tem talento para versos simples. Deixa as complexidades para o romance.
    Não relacionei o nome ao festival literário de Óbidos :). Nunca fui. Mas acredito, pelo cartaz que escrutino anualmente, que valha a pena. Por acaso tinha lido que Cristina Branco ia lá estar.

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  7. Sim, Cristina Branco, muito bom o concerto.
    Maria, cada vez mais vila literária:)
    ~CC~

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