Ontem fui ler uns textos no aniversário de uma biblioteca que muito frequento. Eu e mais umas quantas pessoas, elas por serem habituais nas oficinas de escrita criativa que a instituição dinamiza. A mim falta-me o tempo para me inscrever e a crença de que tal fará de mim uma escritora melhor. Contudo, acredito que seja algo de positivo, pelo menos assim o partilharam. Cada um leu textos seus e de outras pessoas e ainda lemos todos juntos uma pequena quadra.
O público não era muito e por isso não pude deixar de notar no homem de telemóvel na mão a filmar. É coisa que me chateia muito alguém filmar sem pedir consentimento. Contudo, percebi que não tinha com o que me preocupar. Ele filmava apenas uma pessoa quando ela lia. Era uma mulher grande, de cabelos todos brancos, sorriso largo, nem bonita nem feia, mas de alguma forma parecia estar em paz, transmitia isso. Num determinado momento, ela leu uma pequena poesia intitulada Narciso que evocava sol e que acabava em amo-te. Disse-a a olhar para o homem que filmava e que se emocionou. Ficou então claro. Depois alguém comentou que eram marido e mulher desde sempre, ele aparentemente um pouco mais novo, por isso não efectuei logo aquela ligação.
Como é belo um amor que perdura assim. Mas não queiram saber o segredo, não há. Cada amor destes é absolutamente singular.
~CC~