segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Para sempre



Cada amor meu foi para sempre, não pude pensar nele de outra forma. Por isso me custa que morra, que se evapore, que desapareça. Não que não queira ver essa morte de frente, de olhos bem abertos. A catarse é feita de muitas lágrimas e não tenho problemas em soltá-las.

Ver de olhos bem abertos e falar muito e de tudo o que alma traz de luz e de dor, essa minha impertinência foi qualquer coisa que afectou o meu amor do primeiro ao último dia, se eu pudesse fechar os olhos, ele teria sobrevivido. Mas o que sobraria de mim?! Quem seria eu de boca fechada e olhos cegos?! Qualquer coisa amada nas antípodas de mim. Outra eu. O desejo de todos nós é sermos amados por aquilo que somos.

Cada amor meu foi para sempre, pensei-o assim do primeiro ao último beijo, para cada amor pensei envelhecer com ele fazendo-o viver eternamente. E desacreditando metade dos dias, ainda acredito na outra metade.
 
~CC~

domingo, 6 de janeiro de 2013

Mais mudanças



Como vos disse, mudei a minha forma de encarar as facturas, hoje não quero saber delas para nada.
 
Mudei a minha forma de encarar os pedintes nas ruas. Nunca dava uma esmola, achava que era o Estado que devia cuidar deles, o meu contributo estava saldado com o pagamento dos impostos. Às vezes propunha-me para lhes pagar qualquer coisa para comer. Para além disso, considerava que dar era contribuir para este modo de vida, era alimentar a dependência. Além disso, muitos de nós acreditavam que eles podiam arranjar trabalho, se não o faziam, era também porque não o queriam fazer.
 
E agora?!
 
Não há trabalho, o Estado só cuida dos bancos descapitalizados. Ainda temos o banco alimentar e similares...mas penso porque darei a organizações que vivem disto...mais vale dar directamente a quem pede na rua o que posso. E dou, passei a dar.
 
Mas às vezes não sei como viver quando ruiu metade daquilo em que eu acreditava.
 
~CC~

sábado, 5 de janeiro de 2013

Qualquer coisa imaginada



O amor é qualquer coisa que vive na nossa imaginação, pelo menos naqueles que o imaginam. José Luis Peixoto escreveu muito bem sobre esse amor que vive connosco paredes meias mesmo sem existir e quando ele passa a existir como assume a forma do amor que imaginámos. A Viviane e o Zambuzo emprestam a sua voz rouca e doce.




~CC~

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Malditas facturas



Eu sempre fui uma militante dos impostos, crente no sistema nórdico de um Estado capaz de velar pelos direitos sociais de um povo junto por uma língua, uma bandeira e mais umas quantas coisas que geram identidade. A maior ofensa que me podiam fazer era dizer-me se queria factura ou não e alterar o preço em função disso, paguei muitas vezes mais por exigir a factura. Para mim era natural pagar e fazia-o com orgulho a pensar no bocadinho de uma escola nova para a qual eu teria contribuído. Desde o BPN que desacreditei, sei que demorei bem mais tempo que outros que mais cedo abriram os olhos.
 
Hoje tive que mostrar o cartão de contribuinte três vezes e receber três facturas que não quís. Quando dizia que não queria nada, bastava um simples talão, os comerciantes respondiam que então não podia levar o produto em causa. Nunca pensei viver para ver isto: os cidadãos a vigiarem-se uns aos outros por conta do Estado que os rouba. Não fico nada contente com esta minha negatividade, nunca quis pensar em problemas sem pensar em soluções, passo parte do meu tempo a imaginar um mundo sem este sistema financeiro e às vezes vou muito mais longe e imagino-o sem partidos políticos e sem fronteiras. Depois, regresso, como quase todos, à vida em que tenho que pensar nas coisas triviais que nos alimentam os quotidianos mas com pena de não dedicar mais tempo a pensar com outros as alternativas (sem congressos e assim...).
 
~CC~
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Atravessar


Há tanto tempo que não entrava num bailarico de aldeia, ocupando a mesa com a bebida e as passas, enquanto se espera pela coragem de ir dançar. A pista de dança é sempre primeiro dos meninos e mais tarde dos pares na casa dos sessenta. Pergunto-me como vim aqui parar, supreendida com a minha própria vontade de espantar a espessa tristeza que anda colada à minha pele. É preciso nunca deixarmos de nos inventar, de nos surpreendermos a nós próprios. Cada volta dada, cada pirueta,  cada abraço de quem está aqui, tem a dose do antidepressivo certa sem conter nenhum químico.
 
Depois olho-a e vejo que foi o melhor que lhe dei em muitos anos. Ela deve ser a mais velha e como dança no salão da casa do povo, dobrando com um sorriso este ano maldito. No Natal este ano todos falaram em partir, só ela se manteve no silêncio, perguntando mais tarde para onde iam todos afinal. Estamos ainda aqui, pelo menos para ela este ano terminou sem solidão.
 
A chuva deixou tudo molhado e permite-me umas lágrimas. No dia seguinte está sol e permite-me um sorriso.
 
~CC~