Todos os dias da última semana apanhei o autocarro com o mesmo número, saí naquela paragem e desci aquela escada. Guardo tantas e tantas imagens destes dias, desta vida outra que temporariamente vivi. Absorvi do mundo tantas viagens aos mundos dos outros, esta foi mais uma.
No fim da escada todos os dias, pelas 8h30m, aquele jovem de pele morena, pés nus nuns chinelos pretos, cigarro com cheiro muito intenso. Nunca nos olhámos e ainda assim soube que a tristeza era a sua morada.
Pelo contrário, a miúda negra vinda dos bairros difíceis e que mais participava nas aulas, disse-me com uma convicção duas vezes do seu tamanho: eu quero continuar a estudar, vou ser advogada como estas professoras que nos dão aulas.
Há uma linha ténue e muito difícil de explicar entre quem consegue e não consegue, hesito muito nas explicações mais fáceis, há sempre um conjunto de coisas e não um milagre, nem a obra de uma pessoa única que aparece na vida de alguém ou tão só uma escola, um/a professor/a ou um desígnio. E ainda há que desembrulhar as palavras: conseguir, superar, ter êxito. A princípio aceitamos a sua simplicidade, estes miúdos diziam-nas na sua essência básica, só mais tarde vamos vendo tudo de um lado e do seu avesso ou pelo menos é o que me acontece.
~CC~