Rua da Índia, 76
nesta rua da minha infância aprendi a voar, nunca vou deixar que me cortem as asas
terça-feira, 16 de dezembro de 2025
Azevias de castanha
domingo, 14 de dezembro de 2025
Musiquinha de Domingo (XII)
"Já não tenho esse tempo, já nem sei como se faz..."
(esta Luísa Sobral gosta tanto de me roubar as palavras)
~CC~
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
Filhoses de Cabrela
Fui atrás de um pátio onde se falava de livros.
Descobri muito mais. Não se admirarão se vos disser que o Alentejo é o que de Portugal tem de mais parecido com Angola, a terra em que nasci. Bem sei, tão diferente. Mas é o horizonte largo, a vista inteira do céu, as estradas que parecem não acabar, a sensação de liberdade. Por isso é talvez o território para onde sempre quis ir, quando se escolhe a morada, aquele lugar que não achámos, não temos. Se, contudo, for muito interior, irá faltar-lhe o barulho do mar e secarei com a falta de água salgada. Se ficar muito no litoral, será inevitável que se oiça mais Inglês do que Português, perderá o encanto.
Há no Alentejo lugares muito bonitos, quase museus vivos. Cabrela não é nada disso, não tem casas caiadas com barras da mesma cor, não tem largos abertos e ruas cheias de laranjeiras amargas, não tem sequer um aspecto coeso e uniforme, tem palacetes e casas minúsculas. Apenas a Igreja é imponente. E tem o mural das letras, coisa recente e inventada para colocar uma vila no mapa trazendo escritores famosos. Não tem grande mal, faz acontecer, mesmo que venham mais pessoas de fora da vila, do que de dentro. Gosto de lugares imperfeitos e este é.
O que não esperava encontrar em Cabrela era a minha mãe. Pois, as filhoses de Cabrela são as mais parecidas que encontrei às da minha mãe, não no formato, mas sim no sabor. Não sei como, ela era Algarvia. São as maravilhas que a vida nos traz. Estou em Cabrela com as filhoses da minha mãe e os livros do meu pai. E se eles eram um casal improvável.
~CC~
segunda-feira, 8 de dezembro de 2025
Mousse de dióspiro com amêndoas torradas laminadas
Aproveitando os anos que estive sem lhes tocar, olhando-os com a estranheza de quem chupou muitas mangas lá na infância tropical e de quem não domina se são mesmo uma fruta. As mercearias das redondezas estão cheias deles, mas já vão dando sinal de que irão desaparecer. Incapaz de os roer, tão pouco de os descascar, se a variedade fosse mole, dada a polpa escorregadia e inconsistente. Definitivamente não compreendia o meu amigo da adolescência que tanto os amava e me recomendava comê-los à colher com canela.
Até um dia, como aquele em que reparamos em alguém que sempre lá esteve, mas nunca vimos realmente. Foi no meu curso de culinária vegetariana, em que julguei converter-me, nem que fosse apenas parcialmente, que a paixão irrompeu. Era uma mousse laranjinha, com amêndoas torradas laminadas. Vi-a fazer e acompanhei com algum desinteresse, de quem considera que é um desperdício torrar amêndoas para as colocar à superfície de tal coisa. E provei a medo. Mas colher a colher maravilhei-me.
E agora não há Outono-Inverno em que não repita a receita, aproveitando o que a época nos oferece, produto sazonal que ainda não se congela nem se armazena. E isso ainda me sabe melhor, saber que é só agora que o tenho e depois desaparece na sua volatilidade, aceitando como tal.
Um dia talvez saibamos voltar a comer assim, cada coisa combinada com a sua exacta temporalidade. Quando acabar Dezembro, estou certa que não comerei mais dióspiros.
~CC~
domingo, 7 de dezembro de 2025
Musiquinha de Domingo (XI)
Vê lá o que fazes, há tanto a fazer.
(Esta frase podia resumir a minha vida inteira, a inquietação.
Mas sei muito bem que juntos é que iremos um pouco mais longe)
~CC~