Aproveitando os anos que estive sem lhes tocar, olhando-os com a estranheza de quem chupou muitas mangas lá na infância tropical e de quem não domina se são mesmo uma fruta. As mercearias das redondezas estão cheias deles, mas já vão dando sinal de que irão desaparecer. Incapaz de os roer, tão pouco de os descascar, se a variedade fosse mole, dada a polpa escorregadia e inconsistente. Definitivamente não compreendia o meu amigo da adolescência que tanto os amava e me recomendava comê-los à colher com canela.
Até um dia, como aquele em que reparamos em alguém que sempre lá esteve, mas nunca vimos realmente. Foi no meu curso de culinária vegetariana, em que julguei converter-me, nem que fosse apenas parcialmente, que a paixão irrompeu. Era uma mousse laranjinha, com amêndoas torradas laminadas. Vi-a fazer e acompanhei com algum desinteresse, de quem considera que é um desperdício torrar amêndoas para as colocar à superfície de tal coisa. E provei a medo. Mas colher a colher maravilhei-me.
E agora não há Outono-Inverno em que não repita a receita, aproveitando o que a época nos oferece, produto sazonal que ainda não se congela nem se armazena. E isso ainda me sabe melhor, saber que é só agora que o tenho e depois desaparece na sua volatilidade, aceitando como tal.
Um dia talvez saibamos voltar a comer assim, cada coisa combinada com a sua exacta temporalidade. Quando acabar Dezembro, estou certa que não comerei mais dióspiros.
~CC~
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