segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Na aldeia global (I)


Eu tinha um festival do coração, o Festróia. Acabou durante alguns anos, regressou, este ano voltou a não acontecer. Era o melhor modo do Verão chegar, vinha com as cerejas de Junho, foi assim que vi filmes que de outro modo jamais veria. Tinha também o FIAR, o primeiro festival de artes de rua verdadeiramente comunitário, o primeiro a abrir os quintais da população para partilhar um assento, um canto de pedra bonito, um palco na sala de estar de alguém. Este ano foi uma sombra do que era e não foi no pino do Verão, como era tradição. No dia maior do ano, o teatro ocupava toda a encosta do castelo, o Bando agregava entre actores e figurantes quase uma centena de pessoas e homenageava quase sempre um vulto da cultura portuguesa, construindo em torno da obra o espectáculo. Invariavelmente bom, muito bom. Lembro-me de ter chorado uma vez, porque era avassaladora a mistura da palavra, da imagem, da música. 

Não sou nem anti festivais nem especialmente adepta. Agora há para todos os gostos, para todos os tipos de pessoas ou nem sem se é isso, se há um tipo para cada festival, parece-me, aliás que os seus organizadores procuram abranger o maior número de tipos possível. Outros encaixam-se em nichos de mercado, sim, dirigidos a um público específico, seja por causa do tipo de música ou do ambiente.

O Festival MED em Loulé encheu-me as medidas durante algum tempo, depois foi-se banalizando, enchendo de mais para a capacidade do centro histórico, perdendo o rumo do mediterrâneo. Ou somos nós que com o tempo deixamos de achar graça. Ainda assim vou sempre uma noite porque o centro histórico de Loulé me chama sempre, é o perfume das especiarias, o colorido. E este ano houve Karina Gomes, não dei a noite por perdida.

Fui também a Sines e ao Andanças, em anos alternados, raramente mais do que um festival por ano. Sines tem normalmente um bom cartaz musical mas acho que lhe falta encanto. O Andanças é um festival muito coerente, bem pensado para quem o procura, com muita oferta cultural para além da música e da dança e muito espaço. É verdade que conquista os mais tímidos e desajeitados (como eu) para um pezinho de dança porque não obstante haver muitos praticantes que dominam por completo as danças do mundo, há também muitos iniciados, muitos que lá estão sem nada perceber do assunto. Contudo, nem sempre consegui deixar-me ir, quer porque há muito contacto corporal e grande desinibição relativamente ao mesmo, quer porque me cansava tanta entrega, tanto ardor. A participação é uma coisa fantástica mas se a todo o momento nos puxam para dentro da roda, isso pode cansar-nos. Gosto demasiado da minha bolha de 20cm ou preciso dela. Mas até era capaz de repetir.

Este ano deixei-me conquistar pela publicidade ao Bons Sons, parecem ter escolhido as palavras certas para me conquistar, nomeadamente pelo carácter comunitário do evento, por ser numa aldeia, por mobilizar a aldeia. O facto de ser música portuguesa também era chamativo, um cartaz em que metade eram consagrados mas outra metade nem por isso. Esperava uma coisa diferente, um festival diferente. 

(continua)

~CC~



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