sábado, 11 de fevereiro de 2017

Paragem obrigatória (IV)



Foi este verão que conheci a Elena Ferrante, tão tarde mas ainda a tempo. Li os quatro volumes, cujo primeiro se intitula "A amiga genial" num instante. Apanhei a polémica em torno da identidade escondida dela e a sua dita revelação (que eu saiba, não se confirmou nada). Não sei se ela faz mal ou bem, tudo o que é escondido suscita ainda mais curiosidade sem dúvida mas ela está também no seu direito de não entrar nos festivais literários e outros eventos que trazem os escritores até ao público. Amei a escrita dela, ao mesmo tempo que me sentia muitas vezes enganada. Ela sabe do que falo, pois não há nada sobre o qual ela escreva melhor do que sobre os sentimentos contraditórios que nos habitam, como o amor pode conter ódio e o ódio pode conter o amor. A escrita dela prendeu-me mas nem sempre gostava dessa prisão, sentia muitas vezes que ela usava e abusava de um truque (habitual das telenovelas) para nos fazer ir de um livro a outro, a forma como cada um deles acabava deixava-nos sem hipótese de não começar a ler logo o seguinte. Foi assim que me emprestaram os dois primeiros e comprei logo os outros dois. Deixar o leitor arrasado no fim de um livro, absolutamente preso de saber mais, querer mais, é talvez obra de génio. Mas ao mesmo tempo é limitador da nossa liberdade, revelador das nossas fraquezas, é uma via directa para o lado voyeur que há em cada um de nós, sentia que esse jogo me irritava, que ela era tão boa escritora que não precisava de o usar.

Agora ofereceram-me "Escombros" e leio-o devagar, mais próxima dela do que alguma estive, embora não deixe de ser estranho ler um livro sobre dois outros livros (os primeiros) que eu não li. Mas gosto da ideia, por exemplo, se apanho um filme ou uma série a meio não volto para trás, gosto do jogo de tentar descobrir o que está para trás e se consigo entender só apenas a partir do meio. Este livro não é um romance, é uma viagem ao seu universo, ao que a faz escrever. Algumas das coisas que diz são como se fosse eu a dizê-las, são as minhas palavras.

~CC~




1 comentário:

  1. Ainda não li nada desta autora. Várias vezes estive tentada a agarrar num livro dela, mas tenho acabado sempre por comprar outros autores e ela vai ficando na lista de espera.

    ResponderEliminar

Passagens