domingo, 20 de janeiro de 2019

Arqueologia do amor



Parte da minha vida é imaginar o que eu poderia ter sido. As muitas vidas que me habitam.  Gostaria de ter sido arqueóloga do amor. Perguntarão pelo conteúdo funcional da minha profissão. Eu procuraria nas pedras os vestígios, as marcas, as provas da existência do amor desde a idade da pedra até hoje.

Parece que Darwin esbarrou nos gestos do amor, tudo o que não se destinava a escolher o melhor ou a melhor para procriar e perpetuar a espécie. O que aparecia como acessório e aparentemente inútil. Dar as mãos, por exemplo. Quem inventou esse gesto? Não há nele quase nenhum apelo sexual. O que há então? Para quê fazê-lo?

Como é que os romanos, esses brutamontes que inventaram os circos de feras, as lutas corpo a corpo, o domínio do outro e o império, tendo as mulheres em tão má conta que as sentavam no coliseu no anel mais incómodo e distante da arena, como é que entre eles um homem e uma mulher mostram a sua união através das mãos que se tocam? Olhando de frente para o mundo mostram que já não são apenas um e são dois, não é apenas um número a juntar-se a outro, não é um dois que anula cada um, mas é uma junção que forma um universo comum. Deste andar juntos pelo mundo como dois se faz a minha noção de amor. E não tem sido fácil.



Museu Romano de Mérida.

~CC~

4 comentários:

  1. CC, conhece o soneto a quatro mãos de Vinicius?
    É quase tão magnifico como esta sua escavação!

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  2. Alô Impontual, minha nossa, esse homem era sábio:)
    ~CC~

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  3. Entra-se assim de mansinho, sem fazer ondas nem barulho. E de repente...uau!
    Já não sei como aqui cheguei; indicação de alguém? comentário feito em outro lado que me deixou curioso? busca de especiarias (da Índia)? Não me lembro, ou lembro e não quero confessar. Também não tenho de dizer tudo. O que interessa é que entretanto a vi...e o dia mudou, a alegria chegou e o prazer voltou. Quem?
    A amante perfeita.
    Onde e quando?
    ARDÓSIA AZUL
    terça-feira, novembro 12, 2013

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  4. Joaquim, há muito que não sei da amante perfeita ou...se calhar nunca existiu! De todo bem que a encontrou na ardósia azul e que isso lhe proporcionou alegria. Quanto à Rua da Índia tenho quase a certeza que veio pelas especiarias, comprei raiz de curcuma a mais e tenho para dispensar (é a base do caril, depois de seca no forno é desfeita em pó).
    ~CC~

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