sábado, 16 de março de 2019

Antes gritar



O ódio, como ele se infiltra nos adolescentes em São Paulo que massacram colegas inocentes, como ele se instala num adulto na Nova Zelândia, como ele é servido sem pudor nem análise aprofundada nas televisões e nas redes sociais. Não sei se há agora mais ódio do que havia antes mas há muito mais formas de o disseminar. E nunca os inocentes me pareceram tão inocentes e nunca fomos tão vulneráveis. E neste adoecer do mundo, os nossos quatro canais inventam os programas mais estúpidos de sempre, quando pensava que com a casa dos segredos já tínhamos chegado ao pior dos patamares. Mas não há uma forma de parar com isto? Eu também sei assobiar para o lado mas há dias em que não me apetece mesmo, antes gritar.

~CC~

4 comentários:

  1. CC, há dias alguém dizia-me em forma de pergunta, a justificar-se, que ´mais vale ver estes programas (concursos que se dizem ligados ao amor) do que ver desgraças, não é?!'
    Também respondi em forma de pergunta: 'e isso não será também uma desgraça?!'

    Como sabemos, é uma pescadinha de rabo na boca: os programas existem porque há pessoas, muitas, que os vêem; e como há muitas pessoas que os vêem, os programas existem.

    Agrada-me pensar nestas coisas, e em muitas outras, com um distanciamento deste tipo: não quero, não vou; não sou melhor nem pior; cabemos todos (ou devíamos caber em termos de gostos); o mundo também gira com coisas com as quais não me revejo.
    Sei que este tipo de distanciamento pode ser confundido com neutralidade, com o estar-se nas tintas, no sentido de beber tudo o que lhe aparece à frente. Não se trata disso. Como são coisas que não colidem com princípios fundamentais (direito à vida, etc., etc.), tenho a opção de não ver e fazer outras escolhas que me preenchem, e aceito bem existirem pessoas com outros gostos, a minha demarcação pára na zona em que faço as minhas escolhas. Portanto, não assobio nem grito, em relação a "ocorrências" destas.

    ResponderEliminar
  2. Olá Isabel, há quanto tempo...
    Proibir também acho que não, uma vez que são adultos e aceitaram as regras do jogo e, como diz, não parecem estar em causa direitos fundamentais. Mas gritar sim, pois se isso nos incomoda, devemos manifestar-nos, faz parte da vida democrática esse nosso assumir o que gostamos e não gostamos. E é tão pouco dignificante o papel que é atribuído às mulheres que não posso deixar de me indignar.
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tenho ouvido algumas considerações que acentuam o que dizes na última frase. Do pouco que conheço do figurino desses programas, julgo que não é dignificante para quem participa, e isto em medida semelhante para homens e mulheres. (A motivação será o dinheiro que ganham?)

      Também concordo que devemos manifestar-nos, formar opinião e dizê-la quando entendemos valer a pena fazê-lo (há contextos em que não vale; falo no geral).
      Mas esta questão não chega a causar-me suficiente indignação para formar gritos. Talvez por não me parecer que haja 'diferenças de fundo' nos papéis atribuídos a homens e a mulheres.

      Eliminar
  3. Mas há Isabel, nos últimos que foram lançados, há, nem lhes quero dizer o nome para não fazer publicidade a coisas tão idiotas. E junto à minha voz à de muitos outros e outras que têm protestado. Conhece aquele poema do Martin Niemoller

    "Primeiro vieram buscar os comunistas e eu não disse nada pois não era comunista. Depois vieram buscar os socialistas e eu não disse nada pois não era socialista. Depois vieram buscar os sindicalistas e eu não disse nada pois não era sindicalista. Depois vieram buscar os judeus e eu não disse nada pois não era judeu. Finalmente, vieram buscar-me a mim – e já não havia ninguém para falar.”

    A gravidade das coisas é uma medida muito relativa. Às vezes acho que é por não nos indignarmos com as mais pequenas que chegámos às mais graves. O lixo televisivo indigna-me pois não raramente banaliza o mal, humilha as pessoas e expõe emoções como forma de lucro.

    ~CC~

    ResponderEliminar

Passagens