domingo, 18 de julho de 2021

Coisas de um domingo de calor

 

Poderei chamar-lhes um mal do mundo, ou dois.

Negatividade sem saída nem nada de construtivo que aponte outra coisa ou mínimo futuro, nenhuma ideia de felicidade, quer para si, quer para os outros. São os becos sem saída, pessoas que são assim. Estamos com eles e não há um comentário bom, um elogio, uma luz no seu sorriso.

Positividade sem realismo, falsa ingenuidade e felicidade artificial, alicerçadas em teorias do tudo e do nada, se é que se lhe podem chamar teorias, a maior parte das vezes são apenas conjecturas e em nada ajudam à mudança de aspectos decisivos para o mundo e para a própria vida de quem as acarinha. Nem sempre são tontos felizes ou se tem que ser tonto para se ser feliz. Estamos com eles, passa uma borboleta, e é um sinal divino qualquer. 

Não há um modelo de se ser, é verdade. Também não há uma só solução para um mundo melhor.

Mas há coisas que ajudam a viver e outras que não. 

No outro dia tinha um saco com maçãs no supermercado, o saco rompeu-se e as maçãs espalharam-se pelo chão. Houve um senhor que as apanhou uma a uma e ainda foi buscar outro saco e mo devolveu assim, tudo arrumadinho, com uma explicação: sabe, estes sacos agora já não são de plástico, são mais frágeis, não coloque mais que 3 ou 4 maçãs. Achei extraordinário, a atitude, a explicação prospectiva, a generosidade. Nem lhe fixei o rosto, mas a atitude sim.

~CC~




8 comentários:

  1. Pois bem CC, parece que o calor estimulou a crónica. Gostei muito do preâmbulo, a ponto de me fazer lembrar o Húmus do Raul Brandão. Somos feitos desse barro e não há nada a fazer. Ou se calhar até haveria, mas vivemos muito fechados para dentro, tão fechados para dentro que nem fixou o rosto do senhor...
    Bom domingo em parte incerta, pois nunca sei se está na cidade azul, se no Alentejo ou mais a sul. O que vale é que nos encontramos sempre na mesma rua.

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    1. Ando com sorte Joaquim ou é tão só para que a esperança na humanidade continue a alimentar a minha vida, permitindo prolongá-la mais. Não é que hoje um senhor me trouxe ao carro dois dos quatro sacos que tinha para trazer do supermercado? Só me dizia: mas não me custa nada, nada mesmo! Deste lembro-me pois tinha um fato de ciclista:)
      ~CC~

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  2. Pessoas assim ajudam-nos a acreditar que o nosso mundo ainda tem salvação. :)

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  3. Luísa, preciso tanto disso, de acreditar nisso, de não entristecer. Um beijinho e fico a aguardar pelo seu passeio.
    ~CC~

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  4. Há gente digna da nossa admiração. Nunca saberemos se são positivos, negativos ou assim-assim, ou mesmo se não encaixam nestas categorias. Sabemos que na altura própria agiram por nós e foram à sua vida. Sabemos que são desinteressados. O que penso quando leio textos como este, que lhes dão valor, vem-me o desejo de já ter agido assim com alguém, ou de poder voltar a fazê-lo uma e outra vez. Uma espécie de civilidade activa e delicada que falta no nosso mundo.
    Gostei de saber do senhor que lhe apanhou as maçãs, CC.
    Um beijinho e bom domingo.

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    1. A verdade é que elas existem e nos iluminam. Aos velhotes costumo oferecer ajuda, às vezes aceitam e outras não (já levei sacos, vi datas de embalagem e comprei bilhetes de comboio nas máquinas...). Aos outros eu também tenho uma certa vergonha por vezes, penso duas vezes, coisa que não é boa, nestas coisas é bom agir por impulso, espontaneamente, como o senhor fez.

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  5. Que bom ler este texto. Para além dos argumentos, o exemplo do senhor que apanhou as maçãs é delicioso. Como colher uma maçã madura e perfumada que nos vem ter às mãos.
    Há muitos gestos, ou a falta deles, de indiferença, mas a generosidade vem também muitas vezes ao de cima.
    Serão restos que ficaram de outro tempo ou o desejado início de um novo ciclo?
    Boa semana.

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  6. Olá Dolores, gostaria de acreditar no "novo ciclo", durante um tempo achei que haveria um mundo melhor pós pandemia. Mas cada vez acredito menos que ela tenha tido tal efeito.
    ~CC~

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