terça-feira, 14 de setembro de 2021

E gosto de Dragões

 

Acreditei há 10 anos atrás que o meu corpo estava a ganhar peso, a ficar flácido e inevitavelmente feio. Todos me diziam que o exercício era a chave de tudo, uns recomendavam logo máquinas forte e feio, outros caminhadas ou corrida, os mais esotéricos o exercício que juntava corpo e mente e os mais fanáticos e endinheirados um PT à altura.

Pilates era a grande moda, diziam maravilhas. Lá fui. Tinha uma dor tremenda nas costas no final de cada aula mas acreditei que passaria. Mas o pior era mesmo o facto de nos pesarem todas as semanas, como se fossemos gado para levar para a feira, marcavam num cartãozinho o peso, quando alguém perdia um quilo tinha direito a uma maçã afixada num quadro onde todos pudessem ver. Achava aquilo uma devassa e uma coisa ridícula. Pouco durou.

Depois fui em busca do meu interior em posturas mais controladas e amigáveis. Conheci uns três ou quatro professores de Yoga, da primeira só me recordo da sala na penumbra e de como o incenso me fazia lagrimejar e do meu silêncio a cada mantra. Do Yoga meditativo pós doença oncológica nem quero falar, que esforço tremendo para não dormir. Por fim acertei na professora mas não no sistema. É verdade que yoga num ginásio normal não tem velas nem mantras demorados mas o sistema de senhas deita tudo a perder. Se chegamos uma hora antes temos de certeza lugar na aula mas ouvimos uma hora de música de ginásio, trata-se de um impulso motivacional que me desmotiva completamente.Se chegamos 10 minutos antes já estão as vagas ocupadas e podemos fazer o caminho inverso, apesar de pagarmos um valor fixo por mês. O mundo do exercício físico, como em geral o desportivo, está tomado pelo capitalismo mais desenfreado que há.

Resignei-me às caminhadas por iniciativa própria mas sabemos que tudo o que não se socializa mais tarde ou mais cedo acaba por perder-se. Claro que há sempre aquelas pessoas muito disciplinadas que marcam objetivos em post-it na porta do frigorifico. Não é o meu caso, por isso, a minha viagem contínua, agora arranjei um esquema informal com esta arte marcial dos bichos, somos um grupo mas não somos um grupo, ele é um professor mas não é bem o professor. Com o meu coração anarquista é capaz de resultar. E gosto de Dragões.

~CC~







6 comentários:

  1. Eu comecei a fazer umas caminhadas por conta própria, tentando andar uma hora por dia. Para não me aborrecer de andar sem fazer mais nada, descobri o maravilhoso mundo dos podcasts!! E então vou a ouvir podcasts e farto-me de aprender, de me deslumbrar, às vezes de rir. Nunca experimentou, CC? :-)

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    1. Deve ser bom Susana mas eu não consigo, gosto de ouvir a cidade e o campo, os barulhos que eles me trazem. Obrigada por vir...e boas caminhadas e aprendizagens:)
      ~CC~

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  2. Já percebi CC.
    Eu faço parte dum desses grupos que mencionou - um sistema à minha maneira, uma espécie de corridinha misturada com caminhada, nos dias que quero, à hora que me der jeito, durante o tempo que me apetecer, num circuito à minha vontade, mas sempre urbano... e como vê bastante anárquico.

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    1. Se isso lhe faz bem, é mesmo o que deve continuar a fazer. Antes da Pandemia havia um grupo que se juntava às quintas à noite, era razoavelmente anárquico, mas iam de noite e eu para caminhar prefiro ver tudo bem:)
      ~CC~

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  3. Não me parece que buscar o corpo antigo seja boa resolução, o antigo já foi e não torna. Mas cada um tem os seus objectivos e é com eles que se desenvolve. Se essa última hipótese lhe agrada mais, avante. É de manter enquanto não surja outra que mais a alicie.

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    1. Não se trata de buscar o corpo antigo mas sim de não perdermos elasticidade, mobilidade e nos sentirmos bem com ele. Bem sei que a Bea também caminha...e encontra cães com os quais se entende (eu nessa parte é que sou inapta).
      ~CC~

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