terça-feira, 3 de maio de 2022

Para sempre meu mestre

 

Tive um mestre quando tinha apenas 16 anos. Um mestre é alguém que nos espanta, nos revira de alto a baixo, nos olha nos olhos, nos faz ver o mundo de outra maneira. Foi cedo demais para tal. Nunca mais consegui encontrar outro que se lhe comparasse. Talvez o tenha procurado em cada professor/a, em cada orientador/a académico, em cada encenador/a, em cada cruzamento na comunidade, na vida. Não devemos ter mestres tão cedo, todos os outros se lhes comparados, são apenas uma imagem. Cedo percebi também que estava longe de ser perfeito, pelo contrário, ele apresentava-se no esplendor da sua imperfeição e isso, contudo, não o diminuía. Se das minhas palavras depreendem que era uma jovem apaixonada, longe disso, a mestria é todo um outro amor que não passa por paixão ou desejo. Era-lhe grata não só pelo que ele me mostrara do mundo, como também pelo que me mostrara de mim própria, sendo que eu, na minha infinita timidez, estava longe dos holofotes dos olhos dele, mas importava-o na justa medida em que todos os jovens daquela sala lhe importavam. Era confortável para mim não ser o centro, isso permitia-me observá-lo melhor.

E tantos anos depois voltei a ouvi-lo, condecorado pelo Presidente da República e senti quase o mesmo maravilhamento adolescente. Diz ele que se levanta cada dia contente por existir, grato por mais um dia de vida. Tal e qual o que eu sinto meu mestre, isso até nos dias maus, imaginem nos dias bons

~CC~



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