sexta-feira, 10 de junho de 2022

Dia não

 

Não gosto desse país fechado sobre si, a cheirar a vinho e a mijo em cada canto, popularucho mas sem povo capaz de fazer fracassar um regime que já era passado antes de o ser.

Não gosto desse país coladinho à Europa, a desenhar autoestradas pensando que por aí seria o desenvolvimento, chamando novos agricultores a todos aqueles que compraram jipes para desfilar nas novas herdades do Alentejo.

Não gosto deste país que plantou alojamentos locais em qualquer canto, desalojando velhotes e pessoas que amavam os seus bairros.

E como eu amo este lugar, língua de terra voltada para o mar, cheia de cheiros a terra e a vento, tão circunspecto e tão de bailarico.

Não gosto dos dias pátrios, nem da sua pompa e circunstância. Não acho graça alguma à nossa bandeira, ao nosso hino, às coisas que se escolherem para nos simbolizar. Para mim a nossa bandeira era uma onda de mar com espuma de estevas.

~CC~



10 comentários:

  1. creio que a maioria pensa que o verde é dos relvados de futebol e o vermelho uma homenagem ao benfica...voto nessa bandeira :) também eu sonho com uma nação diferente

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    1. Ah, ah...e o escudo, o que será então em metáfora futebolística? Como dizia o meu (quase) conterrâneo: pelo sonho é que vamos!

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  2. Que bom, ler alguma coisa com sentido neste dia... não podia estar mais de acordo

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  3. Este texto é uma pequena maravilha, CC.
    A sua bandeira imaginária é uma delícia olorosa, mais de apetite pela impossível materialização. Mas temos de ter alguma e, apesar da discordância de cores (o circunspecto e o bailarico), gosto da nossa e comove-me o Hino Nacional. Os dias pátrios não devem dizer nada a ninguém, suponho, é tudo a fazer de conta. Mas dão feriados nacionais:).
    Também sofro de alguns desgostos (outros) e partilho desses que escreve. Mas é coisa que nos vem naturalmente, com os anos, o amor à terra em que nascemos. Um país que está virado ao mar tem horizonte. E estou convicta que os povos do deserto gostam dele.
    E que o fim de semana cumpra o que nele deseja.

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    1. O seu comentário é também uma maravilha:) Obrigada por passear nesta rua.

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  4. Teremos sempre dias não e dias sim. Dias em que tudo nos revolta e dias em que tudo nos comove. O país são as pessoas. Todas diferentes. Umas com quem simpatizamos, outras nem por isso. E apesar dos dias não, é como a CC diz. Amamos este país. A bandeira da CC é sem dúvida mais bonita, mas ainda assim, incorporo bem a portuguesa. :)

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    1. A Luísa é muito tolerante, por isso gosta da nossa bandeirinha...só tem uma virtude: é bem diferente de todas as outras, sobretudo nas cores, quantos países há em azul e branco? O nosso mar teria que ser verde:)

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  5. Belo texto, CC
    Deixa-nos a pensar e a querer que o país melhore porque gostamos dele, reconhecendo por isso alguns erros. Sei que continuarei a comover-me a ouvir o hino pátrio, mas também sei que de muitos discursos pátrios em datas festivas pouco fica. Já perdemos muito tempo às escuras e é difícil recuperar a luz, mas tenho para mim que vamos conseguindo. Vai demorar é muito tempo.
    Bom domingo

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