segunda-feira, 20 de junho de 2022

Fábrica de compatibilidades

 


- Veja esta montra, tão bonita...coloridas estas sobremesas...a senhora gosta de doces?

- Eu gosto, um docinho de vez em quando...

- E agora vai comer algum destes, qual é o seu preferido?

- Se comesse algum, seria uma fatia de pavlova...

- Ah eu também gosto muito.

- E a senhora também é dessas que sai para passear o cão?

(que salto...)

- Eu?! Não, eu não tenho bichos em casa (omiti algumas traças que me atormentam).

- Tal e qual eu!

Chega entretanto o companheiro com a imperial e interrompe-lhe a conversa, puxando-o para a mesa, com olhar reprovador, do género "deixa a senhora em paz".

Confesso que saída de uma semana particularmente difícil estava absolutamente concentrada na chegada à minha cidade e num sumo de laranja fresquinho, como tal não me lembro se o senhor era alto, baixo, gordo, magro, bonito ou feito, seguramente teria 60 ou mais. Pensando, contudo, no assunto, aquilo parecia uma espécie de Tinder ao vivo e a cores, embora não conheça a aplicação, parece que tudo se resume a meia dúzia de perguntas a partir das quais nos encontram alguém compatível. Há quem acredite que o amor é uma fábrica de compatibilidades. 

Contudo, querido senhor, acho que nunca na vida bebi uma imperial, só me faltou dizer-lhe isso. Por isso, olhe, já não somos o par perfeito, embora lhe elogie muito essa sua intenção de não sair apenas para passear o cão. 

~CC~


6 comentários:

  1. :)) Também não sei o que seja o Tinder e nunca ouvi sequer a palavra, só a li e foi pela blogaria (coisas que aqui se vão aprendendo). Mas, ainda que tenha esquecido o físico do senhor, quem sabe era apenas um conversador nato e que gostou da sua cara, CC. Ou podia já ter bebido umas imperiais e estar loquaz:). Talvez nem tenha dado por lhe interromper um momento sagrado, que os momentos de sumo de laranja são todos ungidos de beatitude.
    Achei graça ao diálogo com pavlova que já foi doce eleito.

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    1. Bea, aqui que ninguém nos ouve, e falando em senhores de 60...que é feito do nosso amigo comentador Joaquim? Estará bem?

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    2. Neste mundo de desenhadas letras e ideias, as pessoas vão e vêm, vão e não vêm; cada um procede como mais lhe apraz:). É fio muito ténue e despretensioso.
      Bom dia, CC.

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    3. Bea, claro que sim. Mas talvez pela minha própria história, fico sempre a pensar que são questões de saúde e preocupo-me.

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  2. A transição dos doces para o cão é mesmo de dar um salto. :))) Muito divertido este relato.

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