domingo, 17 de março de 2024

Renúncia

 

Tão calado, tão reservado. Por isso demorei até te ver. E não me lembro do momento em que os teus olhos estavam a brilhar no encontro dos meus. Depois vi os teus lábios, esses sim, não esqueci. Por algum tempo o desejo de os beijar alumiava os meus dias e ocupava as minhas noites. E lembro aquele jogo em grupo em que cada um tinha que dizer o que tinha encontrado naquele espaço que nos juntava. E tu disseste muito baixinho: o amor. Alguém ficou espantado e perguntou mas não quiseste dizer mais nada, os olhos demoradamente fitos em mim.

E depois renunciámos, acho que primeiro tu, depois eu, ou talvez tenha sido cada um à vez. Às vezes é assim, congelamos o amor, sabemos que não o podemos viver. A impossibilidade reside apenas na certeza de que não poderemos ser felizes sabendo que o fazemos na sombra da tristeza de alguém. Tu e eu erámos assim. Escolhemos a terceira pessoa, a que estava no meio de nós.

~CC~

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