quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Ainda assim


Foi há dias, fui e voltei a Lisboa de comboio. Mais ou menos a meio do percurso elas entraram.

As quatro, tão diferentes, pelo vistos a trabalhar no mesmo sítio, colegas de trabalho no regresso de uma jornada, comboio cada vez mais vazio por já estar perto da estação terminal. Falavam alto.

A de cabelo curto, lábios vermelhos, vários piercings, desafiava a colega de ar mais pacato e fatiota mais tradicional para ir com ela. Um dia, um dia tens de vir comigo! Até eu fiquei com vontade de ir com ela, de tal modo lhe brilhavam os olhos negros e persistentes. E a outra que não, que nem pensar. Até que lhe diz: se eu pudesse sabes onde ia? Ia até à minha sala de estar,  sabes que se passa uma semana inteira e não entro lá? E às vezes nem ao fim de semana. Imaginei uma mulher com dois filhos pequenos (ela tinha falado neles) que numa semana só entra nas divisões da casa associadas ao trabalho doméstico, a cozinha, os quartos, passando ao lado da sala onde os outros, os outros ficam. E a morena, tão indignada como eu: nem te digo o que eu penso disso... E eu comigo própria: nem eu.

Fiquei a pensar no dia, no dia em que a morena conseguiria levá-la com ela à aula de Kickboxing e ela aprenderia a dar um murro na mesa da cozinha e depois disso iria sentar-se confortavelmente no sofá da sala, deixando-lhes a pilha dos pratos sujos.

Não mais que 30 anos a média de idades daquelas quatro colegas de trabalho.

~CC~

3 comentários:

  1. Há quem tenha muita dificuldade em dar esses murros na mesa.

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  2. foi ao final de três anos ou mais, a viver onde moro agora, que me sentei a descansar no sofá da sala, porque não me aguentava de pé. lembro-me que até àquele dia, nunca tinha reparado que nunca tinha sentado no sofá a conversar e descansar.
    a partir desse dia, mudei :)

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  3. Pois é Luísa, há muito medo do que pode vir a seguir.
    Ana, que bom que o sofá já a conhece:)
    ~CC~

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