quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Magia



Ao 3º ciclo de quimioterapia, 3º dia, o corpo parece estar a ceder, o milagre de ir até ao fim do ciclo sem mal de maior parece estar a gorar-se. Na segunda feira, o vaticínio das análises já anunciava, os glóbulos brancos baixos, a anemia em crescendo. Ainda assim como não decidiram parar o tratamento, continuei a achar que a minha vitória seria certa. 

Se a alma não existe, não sei o que é isso que move sempre o meu corpo, talvez um cérebro com doses extra de vontade, como há pizzas com dose extra de queijo. Mas a poção é mágica mas não milagrosa, é isso que me diz a dor na garganta e no ouvido direito, é o lado direito sempre a ressentir-se mais, se já pensava à esquerda, agora faço quase tudo à esquerda, afinal não há nada nos hemisférios que não se possa educar. Ensaio as minhas manobras de resistência, entre as quais ler, ler muito. Quando no Natal só me deram livros e um pijama, constatei que para os outros eu estava mesmo doente, coisa que me custava muito a acreditar. Afinal tinham razão, os livros são uma excelente companhia neste percurso. Também a escrita dos outros nos blogues. E até se consegue ler com dor de garganta. Se não há milagres, suspeito que há apenas magia e que alguma está na ponta dos dedos de quem escreve, nos olhos de quem lê. 

~CC~






5 comentários:

  1. Como eu gostava de estar mais perto, CC. Mas sendo a distância um sentimento acho que quase levo aí umas bolachinhas de limonete:)

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  2. A leitura e a escrita como adjuvantes. Sim. E sobretudo o acreditar na vitória. Força nesse caminho.

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  3. Ana, bolachinhas de limonete, que bom! Quase consigo sentir-lhes o sabor e devo gostar pois não devem ser muito doces, por ora a minha preferência são as de cerveja, muito crocantes, que só compro aqui num determinado sítio, mas quem sabe as suas não ganhariam...

    Luísa, antes de eu o descobrir, parece que o Paulo M Morais já o tinha feito, estou a ler o livro dele: A parte errada de mim, um hino à leitura e à vida, sem pieguices ou manias de aconselhamento a terceiros.

    ~CC~

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  4. CCF, é bom saber que estamos perto. É bom saber que a tua força existe. É bom saber que acreditas.

    Deixo-te um abraço com muitas palavras. Daquelas boas, que se saboreiam e que ficam cá dentro, por nos fazerem bem.

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  5. Que a anemia do sangue nao seja nunca da alma. Que as palavras apaguem a consciência da dor. Tomara eu saber cuidar da alma de quem tem o sangue por cuidar, quem me dera ter as palavras certas para a magia dum pequeno milagre.
    :)

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