segunda-feira, 6 de maio de 2013

A(s) alternativa)(s)


Não sabemos dizer quantos somos. Talvez os que descem a avenida na última manifestação, talvez nem todos entre eles. Não sabemos quantos somos com este desejo de ser outra coisa, de querer outras coisas. Se calhar não o dizemos do mesmo modo, não o expressamos pelas mesmas palavras. No Verão de 2012, Paulo Varela Gomes chama ao seu desejo de mudança contos da revolução e faz um apelo a uma revolta activa, acabando com a mansidão que em geral habita o nosso povo. Seria incapaz de usar a fórmula que ele usa e de falar da alternativa com uma pedra na mão, mas compreendo-o muito bem.
 
Eu vou vendo as pequenas coisas e imaginando que elas se tornam numa maior. Este fim de semana na Feira das Almas (Lisboa-Anjos) vi jovens, muitos jovens a comprarem coisas usadas a baixo preço, outros a vender coisas feitas por si. A minha filha chamou-lhe o mercado das lojas do Facebook. Uma colega minha disse-me hoje que o filho constrói um projecto colectivo de artes plásticas com outros jovens numa escola devoluta da cidade, cuidam do edifício, dão-lhe outro uso e abrem o espaço à população em exposições. Hoje mesmo nasceu uma horta na minha varanda, plantámos alfaces e morangos, na expectativa de os podermos colher com as nossas mãos. Hoje recebi na minha escola uma equipa de colegas, uma instituição similar à minha, há meses fui-lhes bater à porta, renegando a ideia de que a sobrevivência passa pela concorrência, investi na cooperação e embora o resultado possa ser ainda incerto, ninguém me retira a satisfação de ter feito o caminho.
 
Não sei se estamos a construir alternativas ou apenas a adiar a nossa morte e a alimentar a esperança mas tudo é melhor que a quietude, a imobilidade, a passividade.
 
~CC~

 
Feira das Almas, Lisboa, Maio de 2013
 
 
 

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