segunda-feira, 7 de maio de 2018

Ausente da minha vida



Tenho estado ausente da minha própria vida. Vi os dias passarem de chuvosos a solarengos, as pessoas a planearem as suas pontes contando com os feriados, os relatos das suas mini-férias, senti a ausência maior de estudantes nas salas, os cafés mais vazios. Imaginei como seriam os passeios, os espectáculos, os primeiros dias de praia. Ouvi-o dizer-me onde e com quem tinha ido ouvir música, beber um copo, dar um passeio. Senti que a dor que aquilo me causava era inútil, não valia a pena invejá-lo nem querer-lhe mal por não poder ir com ele, por não estar comigo. Tive que trabalhar em mim todos esses ódios pequeninos que nascem da inveja do que os outros têm e nós não podemos ter. Deitei-os fora porque me faziam pior ainda.

Não comprei nem li os jornais, não fui ao meu cinema, vi um único espectáculo para não sufocar e estive amiúde sozinha em casa enfiada no computador e nos papeis. Senti o corpo a cansar-se, as dores no ombro e no braço direito de tanto usar o rato, a irritação a provocar estragos nas minhas células, as noites a ficarem difíceis. Vi a família vir e ir, desejando que ficasse e ao mesmo tempo que fosse.

Estive não só ausente das vossas vidas mas também da minha vida. E não foi o cansaço bom que decorre do trabalho bom, este foi frequentemente um cansaço mau que decorreu de um trabalho moroso e chato, imaginem que tinham por obrigação demonstrar a alguém tudo o que tinham feito em cerca de 10 anos de trabalho com todas, mas todas as provas documentais. Logo eu que há uns anos decidi que não mudaria mais de emprego para não ter que apresentar currículo nem provar nada a ninguém. Não sei explicar melhor, apenas dizer que esse tempo já passou.

Hei-de regressar lentamente à minha vida mas sei que não recuperarei Abril de 2018, esse mês ficará perdido. Com sorte e algum esforço sentirei um bocadinho de Maio, ainda que tenha que construir diques para salvar, já não peço os meus dias, mas as minhas noites.

~CC~







5 comentários:

  1. Nem tudo se perde dos dias e noites gastos assim. O regresso, quando possa e em sintonia com o desejo, terá então o melhor sabor.

    :)

    ResponderEliminar
  2. Olá Ana, ainda fui passando pelas coisas que escreveu mas com praticamente sem interacção. Bom saber que ainda passa por aqui.
    Luísa, tive uma sensação estranha de muito ter passado por mim sem o ter vivido e não gosto, não gostei. Tinha feito a promessa disto não me voltar a acontecer e encarar cada dia de vida como precioso.
    ~CC~

    ResponderEliminar
  3. Sinto-me tantas vezes ausente do que fui, CC. Ainda há dias comentava com alguém que todos os anos deixo passar a Primavera sem poder usufruir dela.
    Eu tenho estado até ausente dos blogues e penalizo-me por isso, porque há sempre coisas boas para colher em alguns, como aqui. :)

    Espero que possa regressar a si. Um abraço aqui deste mar de pedras.

    ResponderEliminar
  4. Deep, pois há muito que não aparecia por cá, mas nas amizades longas, mesmo que sobretudo na blogosfera, a consistência do que já se foi construindo é algo que fica sempre. E sei bem como é ter muito pouco tempo. Abraço desta Arrábida.
    ~CC~

    ResponderEliminar

Passagens