terça-feira, 26 de novembro de 2019

Deixe-se incomodar


O nome em Português é um genérico "Passámos por cá" que não nos situa o suficiente no filme.

Já do realizador (Ken Loach) sabemos o que esperar, um percurso coerente de denúncia dos malefícios de um capitalismo cada vez mais feroz, e também criativo, como o filme nos mostrará.

São seres humanos que vão caminhando para o precipício pois é ai que se tornam cada vez mais vulneráveis,  à mercê de serem usados e manipulados. O mais curioso é que isso é feito à custa de um sistema em que já não há trabalhadores mas colaboradores, já não há empregados mas só pequenos empresários subcontratados (a quem se fornece a ilusão de serem donos do seu destino), já não há horários mas apenas cumprimento de objectivos e claro, já não há direitos, nem protecção possível, muito menos sindicatos ou qualquer outra organização à qual bater à porta.

Os laços, mesmo os de amor, perdem-se na exaustão. Nenhuma esperança nos é criada, nenhuma saída. Ainda assim apetece dar colo a todos aqueles seres humanos. Mas isto sou eu que tenho dificuldade em gritar, partir vidros, queimar pneus na rua, pois, depois do filme, é o que também apetecerá a muitos fazer.

Seja como for, não adormeça, vá ao cinema, deixe-se incomodar.

~CC~


12 comentários:

  1. É como diz, deixe-mo-nos incomodar, ou todos nós a curto prazo cairemos no precipício, porque a andar para lá, já andamos, por mais que digamos que não. E mesmo os que acordados estão, sendo em menor número, acabam empurrados para lá.

    Boa noite

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  2. Um realizador que nunca me desiludiu, desde o Kes até ao I, Daniel Blake.
    Hei-de ver esse quando sair o dvd; longe vão os tempos em que ia às estreias.

    Boa noite, ~CC~.
    🌴

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  3. Já ouvi falar desse filme e conheço o realizador, filma o que dói e não é ficção. Ou é, mas sobre o real que os homens construíram e os vai destruindo.

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    1. É mesmo Bea, ele inspira-se em histórias reais e nem sempre usa actores profissionais, neste filme, a mulher não o é.
      ~CC~

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  4. Adorei, mais ainda que o 'I, Daniel Blake'

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    1. Sim, se é possível...pois também adorei o Daniel.
      ~CC~

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  5. A CC gosta de cinema de qualidade e das últimas novidades. Faz bem. Esse parece ser bom. Portanto o dinheiro e o tempo foram bem empregues.
    Pergunto se já viu O Irlandês, o tal que só se pode ver na Netflix (por enquanto), e do qual dizem ser maravilhoso, épico, fabuloso, e sei lá o que mais e cheio de estrelas na reforma?
    O cinema de qualidade, de acordo com o conceito preestabelecido pelos nossos críticos pseudo-intelectualoides, virou costas ao filme comercial. Ou então, foi o cinema comercial que virou costas à qualidade. E eu, dou voltas à cabeça, porque não consigo catalogar o Joker, o filme que me deu umas voltas que eu sei lá...

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    1. Joaquim, vou ao cinema do bairro:)
      Não tenho Netflix, às vezes vejo em casa da amigos.
      Não gosto muito da distinção comercial/não comercial, essas fronteiras às vezes não existem ou esbatem-se. O Joker escapou-me, por ora...sei que entra na boa galeria das almas atormentadas.
      ~CC~

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