quinta-feira, 30 de julho de 2020

Os dias com ela



Os dias estão cheios da solidão dela. É uma solidão que grita, estrebucha e desconforta-nos. Cada um de nós tem uma vida cheia de outros desafios e ainda por viver. O mais difícil é que já nem sabemos fazer-lhe companhia, nada do que temos para dar a parece satisfazer. Digo que a vida tem sempre um horizonte, algo que ainda queremos, algo que ainda não fizemos. Mas às vezes não lhe descortino esse querer. Os dias com ela tornam-se pesados e não é o peso da tarefa, é muito mais, é a ausência do gosto pela vida (à qual apesar de tudo se agarra) e por estar connosco. É o pânico que lhe sinto quando os bisnetos lhe tocam à porta, já não consegue inspirar-se na alegria que eles trazem.

~CC~

6 comentários:

  1. Aqui é um pouco diferente, é essa ausência de gosto pela vida em duplicado (já não era fácil antes do covid-19...).
    O bom é que nos damos muito bem e por vezes até nos rimos com as desgraças/problemas que nos surgem quase diariamente.
    A Lei de Murphy does exist... mas o sentido de humor também 😂
    Até quando é que não sei...

    Abracinho.
    🌻

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que bom! A minha é bem difícil, dar-me bem faz-se dentro da relatividade possível. Se há coisas que com a idade pioraram, outras até melhoraram, tento perceber esse equilíbrio para não desanimar, agora no verão o interior da casa, estar fechada, custa-me mais.
      ~CC~

      Eliminar
  2. É como lhe disse ontem CC. "A gente chega ao fim, que é quando já não tem embalagem para haver mais futuro", e olha então para trás. Triste, muito triste quando já nem encontra trás para olhar.
    Fique bem dentro do possível.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada Joaquim. Com conta, peso e medida aguento. A tempo inteiro acho que não...já pensei muitas vezes em trazê-la para minha casa, mas sei que não daria a tempo inteiro conta da tarefa.
      ~CC~

      Eliminar
  3. Como eu a compreendo, querida CC. Sei perfeitamente do que fala. É muito difícil assistir ao envelhecimento e finitude dos nossos pais e conviver com todos os sentimentos ambíguos a eles inerentes, sobretudo, quando sentimos a sua apatia pela vida como um prenúncio de despedida. Porém, por muito que nos doa, não temos outra alternativa senão aceitar. Às vezes, basta estarmos presentes de corpo e espírito, aceitando os silêncios e demonstrando apenas que gostamos. Não nego que seja muito difícil. Eu própria estou a passar por uma situação idêntica. Mas temos de aceitar que não podemos fazer tudo. Não podemos viver pela outra pessoa o que ela tem para viver, da forma como quer ou consegue. A única coisa que podemos escolher é a forma como queremos viver esta experiência tão difícil. Por vezes, a vida fica escura e nós não sabemos para que lado ir, mas há algo que não podemos nunca esquecer: estamos no caminho.

    Um abraço apertado.

    ResponderEliminar
  4. Miss Smile, como as suas palavras me orientam e me fazem bem, obrigada por vir.
    ~CC~

    ResponderEliminar

Passagens