terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Talvez ler-te um poema...

 

Eras de Direita numa escola de Esquerda, eras Católico numa escola predominantemente Ateia. Disseram-me para não gostar de ti e disseram-te para não gostares de mim. E, contudo, como me recebeste bem, como me amparaste, ajudaste e me deslumbraste com o teu modo de ser e de dar aulas. Gostámos afinal um do outro, livres de estereótipos e de intrigas. Senti a tua falta quando pediste a reforma no tempo certo mas sei que não paraste, que andavas para lá e para cá entre Cabo Verde e Portugal, por certo cativando alunos.

Há cerca de um mês pedi o teu telefone, não cheguei a ligar e agora já não o posso fazer. 

Quando for à Meia Praia, mesmo sem saber rezar, hei-de falar contigo, talvez ler-te um poema. 

~CC~

4 comentários:

  1. Quando em 83 o ouvi cantar na Eurovisão
    Na minha vida só houve um abraço como o teu...
    ainda não sabia que éramos primos em terceiro grau, mas gostei da voz ligeiramente anasalada, da balada e da sua figura a fazer lembrar o actor David Carradine. Perguntei a meu pai donde vinha este ramo de parentesco do qual nunca tinha ouvido falar e fiquei esclarecido quando me disse que seu avô tinha ido para Luanda algumas décadas atrás e por lá tinha ficado até ao 25 de Abril, o que explicava a falta de contacto.
    No entanto, apesar de agora perto um do outro, assim ficámos pela vida fora, possivelmente ele sem saber que eu existo e eu a acompanhar à distância o seu percurso musical e restante vida nas capas de revistas, mas sempre com aquele Só houve um abraço como o teu... a encher-me de nostalgia.
    O destino quis que me cruzasse com ele há cerca de um mês, achei-o doente, mas a minha eterna timidez e algum acanhamento impediram que me apresentasse e de o abraçar e lhe dizer o quanto o apreciava e ainda que éramos primos em terceiro grau, e agora é tarde. António Feio costumava dizer, não deixem nada por fazer, nem nada por dizer. Estas palavras só me recordam as oportunidades perdidas que acumulo ao longo da vida. Que arrependimento, que tristeza.

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    1. Quer saber, nem sei qual a razão pela qual lhe queria ligar, devo ter tido aqueles meus pressentimentos...é verdade que não devíamos mas acho que ficará sempre algo importante que devíamos ter dito a alguém e não o fizemos.
      ~CC~

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  2. Os poemas são orações, mas a deuses variados. Na meia praia ou onde seja, é talvez uma forma de contacto. Mas também pode que não. E se não, fica a oração no ar até que alguém a recolhe e, sem causa, se enche de pensamentos bons e afáveis.
    Muito bonito, o que escreveu. A afinidade entre as pessoas é como erva primaveril, brota. Decerto o(a) seu amigo(a) a lembra, CC. E se não puder já fazê-lo - a morte é uma incógnita e pode ser mesmo o fim último -, fica a certeza desse tempo que houve, vivido em amizade indiscutível.

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    1. Estou certa que foi um ser humano que tocou outros, a mim tocou-me.
      ~CC~

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