domingo, 8 de janeiro de 2023

Luísa (I)

 

Luísa tinha 42 anos e um divórcio recente. Olhando para si no espelho, achava que nunca tinha estado tão bem. Finalizara uma relação com uma luz tão baça que não lhe foi difícil se iluminar. Mas com duas crianças, uma ainda pequena e outra quase jovem, um ordenado médio, uma casa alugada, não se dava a luxos. Era ela própria que ia às compras, cozinhava e limpava a casa. Tinha pouco tempo mas a amiga tinha insistido muito naquele jantar, que ia alguém que ela ia gostar de conhecer. Normalmente esse preâmbulo era tão assustador que desistia de ir, ao menos as casamenteiras à moda antiga faziam tudo com uma clareza maior. 

Aceitou por o jantar ser num restaurante de que muito tinha ouvido falar. Andou atarefada nesse sábado procurando deixar a casa limpa e o jantar feito para as crianças, uma amiga tinha ficado de passar por lá a apoiar. 

A comida de facto era divinal, as conversas triviais, o normal para quem se conhece pouco. Sentiu-se porém bastante observada, o que a incomodou e deixou pouco à vontade, como era costume, não via a hora daquilo acabar. Como num ritual obrigatório, o tal senhor pediu a Luísa o número de telefone que ela aquiesceu a dar, por educação.

Felizmente ele não ligou. Mas a amiga sim. O veredicto veio claro: gostou muito de ti e achou-te bonita...mas houve um problema...as tuas mãos cheiravam a um desinfectante que devia ter lixivia! Luísa não pode deixar de rir e de lhe perguntar se o senhor era alérgico ao produto. Ela disse que não mas que não se imaginava a estar com uma mulher que não usasse perfume. Respondeu-lhe que da próxima vez as mãos dela poderiam, por exemplo, cheirar a limão ou a laranja de algum cozinhado, com sorte não cheirariam a cebola ou a alho. 

~CC~






2 comentários:

  1. Como história está fixe. Mas, ponto um: as divorciadas não andam propriamente à cata de marido. Ponto dois: esse senhor era um descartável, parvalhão de tamanho XXL. Vá lá que o jantar não foi mau.

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  2. Claro que não Bea, nem a Luísa andava, acho que isso está claro na...história...ou deverei dizer antes...na realidade dela.
    ~CC~

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