A rotunda incorpora um lago em jeito de monumento, talvez o seu todo seja um barco, na verdade não lhe consigo descortinar o sentido, parece-me sofrível como escultura. Contudo, as gaivotas gostam, há pelo menos seis pousadas na beirinha do lago-piscina e interrogo-me sobre a sua natureza. Quando foi que deixaram de preferir o mar? Quando foi que começaram a preferir o lixo urbano aos peixinhos retirados das ondas? E, sobretudo, quando é que saíram da poética do Fernão Capelo Gaivota em que planar no vento era o verbo que nos encantava para se arrastarem quietas nos becos e nas praças?
Diz-me uma amiga que se não usar a I-A nos próximos tempos, ficarei para sempre em desacerto com o mundo e que não o posso fazer, que ainda é cedo.
E eu desacerto-me com o gosto de quem sabe que comecei a descer o plano inclinado. Ainda sonho com voos picados diretos a retirar das ondas um peixinho mais descuidado e com aquele momento do dia em que me deixo ir planando.
Quando foi que envelheci?!
~CC~
Repito-me mas digo. Gosto das suas crónicas. Aqui nesta cidade, entre o feio e o desinteressante, em que vivo, também tenho uma rotunda assim, com um lago que tem repuxos mas não funcionam e com gaivotas.
ResponderEliminarUm abraço.
Um dia haverá um inventário destas rotundas indecifráveis, nem me importava de o fazer com um bom fotógrafo:). Obrigada por vir, por dizer, sabe sempre bem saber que temos leitores.
EliminarVejo com frequência as gaivotas em voo picado a ganfarem um peixito desprevenido. Têm olhos de lince predador. Às gaivotas de terra que chafurdam no lixo, também as vejo de quando em quando, mas não valem em mim um décimo das da praia nem colhem a minha atenção.
ResponderEliminarE se isso é envelhecer, CC, bendita seja a velhice. Pensar nas gaivotas tradicionais é muito mais higiénico. Em vários aspectos.
Boa noite
O que as divide e distancia? Será, como diria Darwin que vencerão as mais espertas que caçam no lixo em vez de no mar? Gosto de envelhecer, muito embora uma parte de mim tenha ficado mais jovem. Estranho ou talvez não. Boa noite Bea.
EliminarQue texto lindo, CC! Um belíssimo pedaço de poesia em prosa.
ResponderEliminarBom fim de semana!
Gosto tanto quando a Susana gosta!
EliminarEste seu jeito de questionar as coisas e acabar se questionando, me encanta CC.
ResponderEliminarNão pensei nem penso isso antes de escrever, mas de facto é assim como diz. Obrigada Joaquim.
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