Vi dois filmes num só.
O filme em que as mulheres são em si próprias a luz que procura rasgar a tristeza em que todos os sítios estão mergulhados, não obstante as suas magnificas cores. A sua batalha que se faz sem choros, sem mágoas, aqui e ali deixando a raiva emergir, aqui e ali o inconformismo de uma condição a que são conformadas, ainda hoje os casamentos arranjados, a impossibilidade da escolha, a religião como imposição maior. E os seus sorrisos têm olhos tristes, sobretudo da mulher do meio, nesse seu nobre ofício que é ofuscado pelo abandono emocional a que se sente sujeita. Tão maravilhosa essa mulher que a todos dá um colo silencioso, sem grandes gestos de amor. Trabalhadoras incansáveis, movimentando-como formiguinhas em grandes percursos, parte deles já dentro da noite. E a mais nova, toda ela coragem, toda ela uma estrela riscando o céu com o seu desejo, os seus olhos pretos tão belos. E a mais velha, um rochedo, uma resistência, uma pedra atirada contra todos os muros que asfixiam. Surpreendi-me com este filme pois não tenho um particular fascínio pela Índia, ao contrário de muitos, nunca senti esse apelo de viagem.
E vi também outro filme, o das mãos nos caracóis do rapaz. Aquele rapaz era muito semelhante ao meu primeiro amor, digo amor, não namorado. As mãos dela nos caracóis dele, um arrepio tão intenso. A boca dele, tão parecida à boca do meu primeiro amor. O amor deles, tão parecido ao nosso amor, sem sítio nem lugar onde alojar os corpos que se queriam luz. Uma memória tão adormecida, assim a acordar numa matiné. Em que lugar morre de vez o nosso passado? Ou será que nunca morre?
~CC~
O filme que envolve um rapaz com cabelos encaracolados despertou o meu interesse. Poderia dar-me mais detalhes ou o nome do filme?
ResponderEliminarNa palavra filme há um link, basta carregar em cima e vai ter só fine, é uma hiperligação. Desfrute!
EliminarAo filme
EliminarO link leva-me às três mulheres a viver em Bombaim.
EliminarMas o filme que me interessa é o do rapaz com caracóis.
Ah, ah...agora percebi. Mas esse só se passa dentro da minha cabeça, não é acessível aos outros. Apenas o rapaz do filme de cima, muito parecido fisicamente.
EliminarEntretanto, também compreendi.
EliminarA subtileza da sua prosa é absolutamente maravilhosa.
Teresa, agradeço muito, é um bom incentivo.
EliminarUm amor passado (e não importa se grande ou pequeno porque pequenos não há ou não é amor) é como um perfume inebriante para a alma e mesmo que em pó ou em cinzas continua a aromatizar a gaveta das recordações do subconsciente.
ResponderEliminarPS: confesso que na ânsia de a ler, também vi dois filmes CC, onde só havia um.
Ah, ah...esta minha forma de escrita gera estas coisas, bem sei. Enfim, se eu fosse mesmo escritora diria que é o meu "estilo" mas como sou só uma amadora direi que é só a minha forma de amar as palavras. Não era de amor que se estava a falar?! Ou seria de filmes?! Um abraço.
EliminarO passado é o imortal de cada ser humano, o que vai ficando e está completo e imutável.
ResponderEliminarBonita a sua análise, CC.
Bela análise a sua também. Ajuda-me sempre a pensar mais além.
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