Com amigos que não via há mais de vinte anos. Os meus amigos que na adolescência me abriram horizontes para um mundo novo, e que mundo. Eu era só uma miúda suburbana que não conhecia nada da grande cidade. Não os encontrei nesse lugar onde se vai à procura de antiguidades, primeiro porque não o frequento e segundo porque não procuro nada do passado, fica apenas o que tiver que ficar. Achei-os surpreendentemente iguais ao que eram. Enquanto eu estou bastante diferente.
Às tantas uma amiga disse-o e perguntou-me se tinha sido a doença. E referiu que muita gente o dizia, que são processos transformacionais bastante profundos, apoiados por terapeutas que ajudam na catarse. Eu calei o que me apetecia dizer porque a conversa tinha registo sério. Apetecia-me dizer-lhe: olha, no meu caso deve ter sido do sangue das transfusões, continha uma boa dose de alegria. Mas com eles nunca se pode dizer coisas assim tão tontas. Contudo, ao dizer isso a mim mesma com uma gargalhada, descobri o que mudei. E consegui responder-lhe com palavras aceitáveis: olha, antes estava do lado da tristeza e agora estou do lado da alegria, é tudo mais leve deste lado, ganhas outros olhos.
~CC~
Vinte anos depois já ninguém é o mesmo. Já tive encontros, vinte anos depois, com amigos de infância... não tínhamos nada em comum, foi chocante. O melhor é deixar tudo como estava.
ResponderEliminarUm abraço.
Vá lá...não seja tão radical...no que me diz respeito ele ainda é o sol e ela a lua, por isso estão iguais. Eu transformei-me... talvez num arco-íris:)
ResponderEliminarDentro do azar os portugueses têm sempre sorte. A CC tornou-se mais alegre depois da provação. Não acredito que as transfusões sejam o motivo - da forma como o colocou (sou, possivelmente, como os seus amigos de há vinte anos). Mas entendo-lhe a alegria de hoje.
ResponderEliminarSei de um caso bastante grave de hepatite transenal logo após uma cirurgia complexa.
Boa tarde:)
Claro que também acredito e sei que a alegria não está no sangue da transfusão...foi só um modo de brincar com a coisa...no mais sou essa portuguesa com mais que um tremendo azar e no meio dele a sorte. Bom resto de semana Bea!
ResponderEliminarFico contente com essa alegria e olho-a como uma flor numa manhã de primavera com gotas de orvalho que o sol irisa.
ResponderEliminarComo sabe, tenho um "livro" de estimação que frequentemente folheio e hoje lhe trago uma passagem que achei curiosa:
"Toda a vida ouvi reparos em relação ao modo de sentar, aos abraços desmedidos dado a rapazes ou a homens que podiam ser objecto de outras interpretações, ao meu modo de me situar no espaço, de caminhar, de me aproximar. De vez em quando, nos momentos mais improváveis, quando ando a correr de um lado para o outro, dou com uns olhos de homem fixos em mim. O meu primeiro pensamento costuma ser que há algo errado comigo, que devo ter o casaco vestido ao contrário (o que acontece com frequência), que deve ser alguém que não estou a reconhecer (estou sempre a encontrar gente em todo o lado) , ou que é uma pessoa que deve precisar de ajuda para alguma coisa (defeito profissional). Nunca penso que aquele homem está a olhar para mim como um homem olha para uma mulher, que estou a ser olhada como mulher, e não estou a falar daqueles olhares marialvas centrados em partes do corpo salientes, mas sim naquele olhar que é todo ele um interesse centrado em nós, um olhar que também nos olha para os olhos. Com a idade isso piorou bastante, porque mesmo sem querer temos esta tendência de pensar que as moças novas são inevitavelmente giras e atraentes e que há tantas e tantas por aí que não falta para onde olhar."
Boa noite CC.
Fico contente de sabê-lo bem, quando se ausenta por algum tempo fico sempre preocupada com a sua saúde. Impressionante....será que um dia me empresta o seu livro? Talvez venha a precisar😉. Boa noite Joaquim.
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