A maré desceu muito, quando assim acontece e é manhã bem cedo, tenho um invulgar prazer em deixar os meus pés marcados na areia. Deixo-os na ida e na volta e fico a observá-los como quem confirma a sua existência. Hoje tive um encontro inédito e belo com um polvo bebé. Nunca me tinha acontecido. A princípio vi apenas algo a mexer-se na areia, quase tão transparente como a água. Afastei as gaivotas que rondavam para ver melhor, o polvo queria voltar à água e mexia-se devagarinho pela areia, talvez tivesse sido surpreendido pela descida súbita da maré, talvez não estivesse bem. Queria muito ajudá-lo mas não sabia como. Como pegar nele sem o magoar e sem me magoar e deixá-lo ir para que crescesse, tivesse ainda dias de algas e mergulhos. Não sabia, como podemos ser tão ignorantes. Mas ele mexia-se muito corajoso e decidido e a maré estava a subir, fiquei apenas a afastar as gaivotas, com receio que alguma o debicasse. E ele lá foi, tão transparente como a água.
~CC~