A maré desceu muito, quando assim acontece e é manhã bem cedo, tenho um invulgar prazer em deixar os meus pés marcados na areia. Deixo-os na ida e na volta e fico a observá-los como quem confirma a sua existência. Hoje tive um encontro inédito e belo com um polvo bebé. Nunca me tinha acontecido. A princípio vi apenas algo a mexer-se na areia, quase tão transparente como a água. Afastei as gaivotas que rondavam para ver melhor, o polvo queria voltar à água e mexia-se devagarinho pela areia, talvez tivesse sido surpreendido pela descida súbita da maré, talvez não estivesse bem. Queria muito ajudá-lo mas não sabia como. Como pegar nele sem o magoar e sem me magoar e deixá-lo ir para que crescesse, tivesse ainda dias de algas e mergulhos. Não sabia, como podemos ser tão ignorantes. Mas ele mexia-se muito corajoso e decidido e a maré estava a subir, fiquei apenas a afastar as gaivotas, com receio que alguma o debicasse. E ele lá foi, tão transparente como a água.
~CC~
Um acontecimento insólito que acabou bem... para o polvo. Assim ele em adulto não acabe numa panela.
ResponderEliminarUm abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarLuís, a prosa está cheia de metáforas, não apenas a poesia...a minha escrita é assim, dentro das coisas triviais e até banais esconde outras e múltiplos sentidos, este é o caso também. Os seres vivos, todos eles, acabam por morrer, mas se fosse possível deixá-los cumprir um ciclo de vida seria bom. No limite talvez eu seja aquele polvo ou tenha sido um dia, complicado?!🙂
EliminarAté o meu comentário pode ser uma metáfora.
ResponderEliminar😊
EliminarParece-me que foi uma ajuda e tanto. As gaivotas não perdoam. A esta hora já o polvo encontrou a família.
ResponderEliminarBem vinda, CC.
As gaivotas tornaram-se ferozes, mudaram o seu comportamento que até era meio dócil, se calhar teremos algo a ver com isso, não sei... Obrigada por ter voltado também e espero que esteja melhor de saúde.
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