Aproveitando os anos que estive sem lhes tocar, olhando-os com a estranheza de quem chupou muitas mangas lá na infância tropical e de quem não domina se são mesmo uma fruta. As mercearias das redondezas estão cheias deles, mas já vão dando sinal de que irão desaparecer. Incapaz de os roer, tão pouco de os descascar, se a variedade fosse mole, dada a polpa escorregadia e inconsistente. Definitivamente não compreendia o meu amigo da adolescência que tanto os amava e me recomendava comê-los à colher com canela.
Até um dia, como aquele em que reparamos em alguém que sempre lá esteve, mas nunca vimos realmente. Foi no meu curso de culinária vegetariana, em que julguei converter-me, nem que fosse apenas parcialmente, que a paixão irrompeu. Era uma mousse laranjinha, com amêndoas torradas laminadas. Vi-a fazer e acompanhei com algum desinteresse, de quem considera que é um desperdício torrar amêndoas para as colocar à superfície de tal coisa. E provei a medo. Mas colher a colher maravilhei-me.
E agora não há Outono-Inverno em que não repita a receita, aproveitando o que a época nos oferece, produto sazonal que ainda não se congela nem se armazena. E isso ainda me sabe melhor, saber que é só agora que o tenho e depois desaparece na sua volatilidade, aceitando como tal.
Um dia talvez saibamos voltar a comer assim, cada coisa combinada com a sua exacta temporalidade. Quando acabar Dezembro, estou certa que não comerei mais dióspiros.
~CC~
Gostei da metáfora "Até um dia, como aquele em que reparamos em alguém que sempre lá esteve, mas nunca vimos realmente". Bem que se podia aplicar aos seus leitores (não estou a falar de mim, que como sabe sou intermitente).
ResponderEliminarFaz o que eu digo, não faças o que eu faço é uma expressão popular que tem muito de verdade no que respeita à minha opinião sobre o vegetarianismo. Reconheço-lhe os méritos, era incapaz de o praticar.
Já sobre o veganismo, que é mais uma filosofia de vida contra toda a exploração animal (alimentar, vestuário, etc.), respeito enquanto princípio ético embora a considere um fundamentalismo.
Bom feriado CC, aproveite o descanso.
Pois, agora que fala nisso, tenho curiosidade sobre a sua "dieta" dos blogues...porque desaparece durante um bom tempo?!
ResponderEliminarQuanto aos fundamentalismos, eles podem nascer no interior de tudo, veja as religiões...
(ai descanso, descanso...não sei o que é isso de fds ou feriados, às vezes tiro uns bocados e é bom, muito bom).
Canso-me CC, a começar de mim próprio. E como não se combate o vento que passa, espera-se que ele passe.
EliminarCurioso...eu a pensar que fazia longas férias num lugar sem internet! Ou que estava doente, a uma dada altura de longa ausência, preocupei-me. Ora este argumento... parabéns pela sinceridade.
EliminarTambém não gostava de dióspiros e agora gosto. Mas eu tinha-os provado, sabia que não gostava. Mudei o gosto. Não sei é fazer mousse, mas julgo que haverá receitas na blogosfera. Não é fruta que actualmente me seja aconselhada; ainda assim comi alguns. Madurinhos.
ResponderEliminarBoa noite, CC
Que razões levam a que não se aconselhe? É a receita mais fácil do mundo, bater na liquidificadora com uma colher de chá de mel e uma de canela. Tem uma goma natural, nem precisa de gelatina. E fica bom até 3 dias depois...no frigorífico claro.
EliminarE funciona como os perfumes, o sabor lembra alguém.
ResponderEliminarAcredito😌. Comigo este sabor não, mas outros sim.
Eliminarnão afastando de todo a sua receita, fico-me pela naturalidade das duas variedades (a mole e a de roer) e com a satisfação de que ainda não são criados "debaixo do plástico" levando-nos ao sabor etéreo desta época.
ResponderEliminarapesar de não poder muitos, não abdico de tal néctar
Pois, eu preciso deste toque! Ao natural parecem-me belos mas estranhos, não sei como os abordar😂
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