Diz-se que precisamos de alguém que testemunhe a nossa vida para termos a certeza de ser mais do que pó, de que um dia existimos. Mas a nossa existência é também a existência dos outros que viveram em paralelo connosco, entrando na nossa vida sem sequer saber.
Agradeço ao Chico Buarque a invenção do amor com um violão e uns olhos verdes capazes de fazer sonhar qualquer mocinha nascida nos anos 60. Quem me cantava as canções dele tinha olhos pretos e caracóis da mesma cor, tão capaz de me fazer acreditar no amor como ele próprio. Fui esta mocinha, acreditando ser tão amada como a da canção neste jogo inocente do primeiro namorado a sério. A felicidade podia durar apenas o tempo desta canção mas era plena, intensa e verdadeira.
Mais tarde, muito mais tarde e já mulher também soube o que era esperar que o nosso amor nos olhasse e descobrisse que trazíamos um colar ou um vestido novo, tão sequiosa de uma surpresa, de uma dança em plena rua, de ainda me saber amada, afogada num quotidiano de intenso trabalho que parecia letal para o amor, é letal para o amor. Sonhado sempre "e os dois começaram a se abraçar". Este desejo que o amor dure e se mostre iluminado de quando em quando, renovando a certeza da sua existência.
E esta mãe que espera uma vida inteira? É a minha mãe. E eu, sem nome de menino Jesus, mas ainda assim com nome de Deusa retirada da Ilha dos Amores, vezes sem conta destinada a repetir o nome e a dizer perante a estranheza:, não não me chamo Isabel, não é Isabel.
Chico é grande, tão grande como belo. Entra nas nossas vidas e envelhece connosco.
~CC~
"João e Maria" deve ter sido a primeira música do Chico que conheci. Quando era miúda, sabia a letra toda. Apesar da idade, ele mantém o seu charme e uma voz bonita.
ResponderEliminarBoa semana. Abraço.