Fui sempre a mana gordinha das irmãs magras. Mas tive uma sorte tremenda, quando era adolescente ainda se apreciava meninas com ancas e rabo redondo. Cresci assim mais ou menos apreciada, nada de espantar, nada de envergonhar. Não me faltaram namorados, embora me tenha agarrado a um dos 16 aos 24 anos.
As minhas preocupações tomaram outros rumos para além do meu corpo, embora nunca lhe tivesse sido alheia. Mente quem diz que não gostaria de ser mais bonita, mais magra, mais isto ou mais aquilo. Mente quem diz que não se incomoda por se saber menos em forma, menos bonita, mais velha, mais desgastada, mais triste. Poderia dizer tudo isto no masculino, embora bem saiba que às mulheres pesa mais. Mas uma coisa é não nos enganarmos com o espelho, outra é rastejarmos em prol de quem nunca seremos, prisioneiras de dietas, reféns de gabinetes de estética, clientes de gurus disto e daquilo que nos prometem outros espelhos.
Amei-me sempre mais ou menos, com aquele mais de às vezes me sentir bonita, outras feia, umas vezes gorda e outras mais magra, amei-me na aceitação da minha imperfeição, não naquele comodismo tonto de dizer "sou mesmo assim" mas naquele de fazer o possível por me manter aceitável para mim própria, marcando os meus limites, as minhas fronteiras, essas que não serão iguais às de outra pessoa qualquer. Se não sinto inveja das mais lindas, das mais novas, pena de não poder usar calções curtinhos nem mini saias, muito menos calças descaídas a mostrar a barriga que sempre tive, desde miúda? Claro que sim. E depois? A vida comporta insatisfação, o seu quinhão de sofrimento, dias de arrepio, dores de cabeça. A vida não é uma festa, esperamos que também não seja um longo velório.
Mas o espelho também é infinito e tem veredas, curvas, espaços em branco, tudo o que não é apenas objectivo mas que vive na subjectividade que comporta o olhar de cada um que nos olha, nos vê.
~CC~
Sem comentários:
Enviar um comentário
Passagens