sexta-feira, 7 de junho de 2019

Liberdade



Foi ontem, na biblioteca da Assembleia da República. Nunca tinha entrado na biblioteca e é bastante bonita. Não era uma homenagem à Natália Correia mas o lançamento de uma revista em que ela é a personagem escolhida (Faces de Eva). Acho que ela, que acreditava em Deus e não sei se na vida para além da morte mas acho que foi ela quem enviou a chuva que inundou a tarde. Nunca poderia ter sido uma vulgar tarde de Junho, com sol de Verão e cheiro a sardinha. Foi uma tarde molhada, caótica, com o que resta do cheiro a terra no interior de uma cidade. Tive uma genuína vontade de chorar que consegui conter pois não me apetecia fazê-lo ali, entre tantos estranhos. 

A tristeza e a revolta da Natália tornaram-se matéria ainda mais verdadeira e mais humana no interior do táxi. É fácil, falávamos sobre Lisboa. E o condutor contou as histórias, as dele e as de quem se senta naquele banco. As histórias das pessoas que perdem os bens por deverem à banca menos de 80 mil euros que não conseguem pagar e que vêm negadas todas as hipóteses de negociação, assistindo assim a vendas em hasta pública que rapidamente são tomadas por grandes fundos imobiliários previamente avisados. As histórias das pessoas acossadas pelos proprietários das casas que alugam, não poderei esquecer a da velhota que o senhorio deslocou de Alfama para uma casa minúscula em Chelas, dizendo-lhe que era em Lisboa e numa zona muito mais calma. 

Natália Correia teria escrito sobre isto poemas de farpas e sangue. E teria cantado, como a ouvi ontem fazer com Amália,  quem se não ela não teria medo de cantar a meias com a fadista...

Hei-de requisitar na biblioteca mais próxima o Botequim da Liberdade.

~CC~










6 comentários:

  1. Como é que se acredita em Deus, e não na vida para além da morte?

    Gosto da Natália

    Obrigado pela partilha CC

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  2. Olá CC,

    Não sabia que ainda editavam a revista Faces de Eva. Tenho duas, do ano 2000, dedicadas à Maria Lamas e à Virginia Woolf; vou tentar encontrar essa pois gosto muito da Natália.
    E sim, ela acreditava na vida para além da morte e, segundo o Fernando DaCosta, até era capaz de fazer chover...
    Ele conta essa e outras histórias insólitas (da Natália e não só) no livro "Nascido no Estado Novo" (Editorial Notícias,2001).
    O Botequim da Liberdade, que a CC refere, também é muito bom.

    Maria

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  3. Vejo que tem lágrima fácil CC. Antes de as enxugar há que as soltar. Não nos dão respostas, mas alivia. Tenha um bom fim de semana.

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  4. Miguel, acho que é possível, a crença em Deus pode ser muito multifacetada:)
    Joaquim, por acaso não, raramente choro...mas ultimamente tem sido diferente. Bom fds.
    Maria, uma mulher espantosa...a revista ainda se publica e cada vez com mais qualidade, novo editor, com mais qualidade.
    Abraços 3
    ~CC~

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  5. Fiquei curiosa com a revista. boa semana, CC.

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  6. Laura, acho que ia gostar desta revista!
    ~CC~

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