sábado, 15 de outubro de 2022

Aproveitá-lo

 

Entrei na papelaria do bairro e o senhor conversava com a senhora que estava antes de mim. Perguntava-lhe se já tinha ido ao cabeleireiro agora renovado, e ela que sim, que os clientes sempre esperam e voltam. É uma questão de apoio, disse ela. A seguir entrou alguém com voz forte: preciso de moedas! Rimos todos, e eu comentei-lhe a voz, recomendando-lhe um coro. Também rimos, e o senhor da papelaria disse: tem que ir lá à frutaria deste senhor, não há melhor. Agora rimos eu e o senhor da frutaria pois sou há muito cliente. Apareceu a mulher do senhor da papelaria e pediu-lhe que lhe guardasse um bom melão pele de sapo. Passe lá antes da uma, respondeu ele. Talvez consiga lá passar também, disse eu. E ali ficámos a conversar sobre fruta entre jornais e raspadinhas.

Talvez esta seja a única coisa que agradeço à pandemia, mostrou-me que morava num bairro e devia aproveitá-lo.

~CC~

1 comentário:

  1. Nada disso me aconteceu durante a pandemia. Mas acredito que muita gente se tenha dado conta de quem vive quase ao lado e, no bulício da cidade e pressas da vida, passava despercebido. Estava-se menos em casa; comprava-se mais em grandes superfícies.
    Bom domingo, CC.

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