domingo, 11 de dezembro de 2022

Dias tão grandes e com tanta noite

 

Pediram a definição, faltava-lhes.

Disse-lhes que não a tinha, haveria por certo não uma, mas várias. Podia dar-lhes livros, recomendar-lhes textos, consulta de dicionários. Mas sobretudo tínhamos dado um roteiro, pistas concretas para poderem ser eles a criar uma, a encontrar a sua.

Mas ela tinha pressa de dizer que tinha uma definição, teve de a dizer e de atribuir um autor. É boa, disse-lhe, não está certa, nem errada, é um bom raciocínio. 

Depois ela disse que devia ter sido assim o início, depois de definirmos é que podemos fazer o percurso. E eu respondi que se calhar seria melhor o fazermos à chegada, no caminho é que vamos procurando.

Por ora, ainda sinto o desafio, enquanto assim for, vou caminhando. Mas há também um grande cansaço infiltrado em todos os poros da minha pele. Os dias de trabalho são muito, muito grandes e invadem os fins de semana. E há pouca luz, são longas as noites. Depois há rasgos luminosos e bebo-os para me alimentar. Ontem chegaram sob a forma de peixes pássaros e de pássaros peixes ou talvez peixes voadores.

~CC~



2 comentários:

  1. Por vezes penso ser sadismo este meu gosto por posts tão intimamente sentidos. Disseram-me uma vez que não entendiam este meu pendor por palavras que pedem quase sangue; achei exagero, não liguei. Mas reconheço em mim apreferência por escrita e reflexão confessional, o único género que, se utilizo, segue ao correr da pena e me basta ao reler apagar ou corrigir o "quase sangue".
    E, apesar de os meus dias serem pacatos, entendo perfeitamente que as noites sejam tamanhas. Não sei como a CC aguenta dias exaustos e noites imensas. Mas cada um constrói os seus muros e alguma coisa há de protegê-la do tamanho das horas.
    Quanto a definições, e desconhecendo a especificidade do que refere, digo que são perigosas, excepto se provisórias. Por mais que desejemos a permanência, tudo é provisório, até nós. E, no entanto, a necessidade do imutável permanece. Mesmo sem definição. Facto pouco concebível na juventude do espírito.
    Que o Menino lhe traga um molho de noites descansadas, daquelas em que adormecemos por largas horas, isentas de soslaios ao relógio.
    Um abraço, CC. E bom domingo

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  2. Estava aqui a tentar este/a anónimo...é uma escrita que reconheço mas não sei bem quem é. E com isso esqueci-me de responder...fico contente que goste da reflexão confessional, sem querer ou definir que queria ser assim, foi assim que foi sendo...deve ser por ser uma rua:)

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