quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Com os dedos no papel

 Ainda preciso do toque, do cheiro, do som da folha quando a deixo para trás e passo à seguinte. Li apenas dois livros estas férias, nas antípodas um do outro. Humanos exemplares é de uma jovem brasileira, praticamente desconhecida entre nós. Comoveu-me muito por falar de dois professores que faziam da escola casa e família, uma escola pequeno mundo de afectos que já não existe mais. E pelo modo como o seu amor resiste e se transforma atravessando toda a ditadura brasileira. Eram mesmo Humanos exemplares, só no fim o título me fez sentido. Quanto ao grande Clássico " O idiota" é tão actual como absolutamente distante e datado, consegue a proeza dessa intemporalidade ao mesmo tempo que nos traz uma Rússia para sempre perdida. Intemporais são os defeitos e as virtudes dos seres humanos, nunca verdadeiramente transformados para melhor. 

Mas não ganhei uma rotina de leitura como gostaria, o que me faz duvidar do objectivo de ler um livro por mês. E em casa é onde menos leio, prefiro o café, o jardim, a praia, lugares que o Outono ameaça e o Inverno ainda mais. 

Ainda assim, sei que estou bem com os dedos no papel, ainda viajo.

~CC~


6 comentários:

  1. São fases, com a insistência e a disciplina acaba por instalar a rotina.
    Um abraço.

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    1. A questão é não ser uma pessoa de rotinas, antes pelo contrário. Habituei-me à não rotina, a não ter um dia igual ao outro e parece que é nisso que nado como peixe:)

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  2. Não contabilizo quase nada na vida, sou alérgica a números e a dinheiro, uso ambos no estrito necessário, não memorizo senão um mínimo de dados numéricos e esses de natureza afectiva; as moedas e notas mantêm comigo um veio fundo de repulsa e a moda dos cartões é gratificante.
    Jamais me lembraria de ler um livro por mês, leio tanto mais quanto menos durmo e essa é a única constante. Já pensei que a leitura me é cobardia encoberta, agradam-me outros mundos que divirjam do meu. Mas o certo é que sempre me agradaram, independentemente de querer ou não fugir ao que me rodeia. Portanto, é possível que seja apenas um gosto aliado ao desejo de evasão. Prefiro histórias a qualquer outro tipo de leitura; não leio para aprender (só o fiz com os livros escolares), leio porque gosto de ler e leio sobretudo romance por ser o género que mais me retira de mim e da minha circunstância. O romance, como um bom filme, empolga-me. Por ora, a leitura é a pausa de que necessito e a forma de ajudar o tempo a passar sem que dê por tal. Já teve outras facetas. E quem sabe se não terá novas.
    Li "O Idiota" e concordo consigo. É sempre actual apesar de muito datado. Os homens são cada vez mais os mesmos. E os intemporais têm esse dom de pertencerem a todos os tempos. Coisas.
    Do outro livro digo, sem conhecer a obra, que um professor é isso mesmo e nem consigo concebê-lo de forma diversa.
    Não faço ideia da razão por que continuo lendo, mas deve ser por prazer já que esqueço quase tudo em seguida. A velhice traz imponderáveis insuspeitos; eu que desejo morrer gasta - e tudo indica que sim - não pensei no que isso significa. O desgaste de tudo é, em simultâneo, a admissão de doença e impossibilidade desse mesmo:). É ingenuidade crassa pensar que nos gastamos sem dano.
    Bom dia, CC!
    portanto, é aproveitar o que pudermos e enquanto pudermos.

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    1. Oh Bea, a questão é que sou assim também...e cada vez mais. Mas tenho uma livraria de culto que tem um clube de leitura e temos que ler um livro por mês:) Sei que também não aprecia grandemente tais coletivos mas eu gosto de comunidade, de fazer parte das coisas...tanto quanto do contrário, ou seja, de ser livre...e fazer o que (e só) o que me apetece.

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  3. A leitura é uma forma de libertação e de aprendizagem.
    Vale a pena ler.
    Abraço de amizade.
    Juvenal Nunes

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