sábado, 13 de setembro de 2025

No escurinho do cinema

 

Em Setembro, voltamos ao cinema, não a um qualquer, ao nosso cinema. Felizmente não preciso de ir a um cinema sem porta para a rua. Contudo, fui hesitante. Prometia uma distopia, um filme que anunciava um futuro. Não é coisa que me anime muito. Mas o Último azul surpreendeu-me.

É uma sociedade que coloca os seus velhos sob tutela dos filhos e do Estado, para não estorvarem. Há uma data obrigatória de reforma e um destino de internamento num local vigiado e controlado, com as necessidades básicas supridas de forma igual para todos, como se todos fossem iguais. Até aqui, achamos que já conhecemos uma história assim, em que se tentam expurgar da comunidade todos os que, de alguma forma, fogem à norma.

Contudo, os atores, melhor, as atrizes ou ainda melhor, aquela atriz. Mulher mansa mas determinada, com um grito rouco e um indomável gosto pela liberdade. Corpos de velhas que se mostram sem retoques, sem medo, sem beleza e sem pudor. E até ficam belos pois integram-se naquela natureza exuberante e intensa do Brasil profundo.

Aquele barco deslizando rio acima é um farol de esperança, também eu gostaria de conduzir assim um na minha velhice, afinal ela que sempre quis voar acaba a deslizar na água, espelho que mostra o sol e a lua em todas as suas nuances. Mulher tão forte, tão arrojada, tão louca... e é a sua loucura que é a sua saudável salvação.

~CC~



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