Em Setembro, voltamos ao cinema, não a um qualquer, ao nosso cinema. Felizmente não preciso de ir a um cinema sem porta para a rua. Contudo, fui hesitante. Prometia uma distopia, um filme que anunciava um futuro. Não é coisa que me anime muito. Mas o Último azul surpreendeu-me.
É uma sociedade que coloca os seus velhos sob tutela dos filhos e do Estado, para não estorvarem. Há uma data obrigatória de reforma e um destino de internamento num local vigiado e controlado, com as necessidades básicas supridas de forma igual para todos, como se todos fossem iguais. Até aqui, achamos que já conhecemos uma história assim, em que se tentam expurgar da comunidade todos os que, de alguma forma, fogem à norma.
Contudo, os atores, melhor, as atrizes ou ainda melhor, aquela atriz. Mulher mansa mas determinada, com um grito rouco e um indomável gosto pela liberdade. Corpos de velhas que se mostram sem retoques, sem medo, sem beleza e sem pudor. E até ficam belos pois integram-se naquela natureza exuberante e intensa do Brasil profundo.
Aquele barco deslizando rio acima é um farol de esperança, também eu gostaria de conduzir assim um na minha velhice, afinal ela que sempre quis voar acaba a deslizar na água, espelho que mostra o sol e a lua em todas as suas nuances. Mulher tão forte, tão arrojada, tão louca... e é a sua loucura que é a sua saudável salvação.
~CC~
Uma pena que as salas de cinema fora de Lisboa estejam tomadas pelas distribuidoras que só exibem filmes comerciais. Para ver um filme capaz só em Lisboa em 3 salas.
ResponderEliminarUm abraço.
Concordo e lamento que assim seja, o edifício cinema já foi um empreendimento de alguém que amava filmes.
EliminarÉ bom que os filmes nos façam sonhar. Ainda que a velhice não seja nunca o que sonhámos. É difícil, senão impossível, sonhar uma realidade ainda não vivida. Também neste caso, tal como dizia Vergílio Ferreira, a realidade é sempre mais, muito mais do que corpos envelhecidos e a apodrecer. O que importa - se é que algo importa - não é o que se vê, mas o que se sente. A dor não é júbilo nem se sonha.
ResponderEliminarOs cinemas a que vou e pouco frequento não têm porta para a rua, o que não me faz qualquer diferença, os filmes são a minha porta. E gosto de ir de Metro e entrar no cinema sem sair à rua. Se houver um acidente? Morro e só adianto o que sempre me esperou.
Bom dia, CC.
Pois...mas eu não gosto nem do metro, nem de centros comerciais, mas não é por medo de acidentes. Acho que ia gostar muito deste filme. Bom fds Bea
EliminarO cinema brasileiro tem coisas tão tão boas!!!
ResponderEliminarUm dia ainda fazemos um blogue de crítica de cinema! Sei que também gosta muito de cinema...
EliminarGosto muito, sim. Eu gosto de tudo o que faça mexer os parafusos. Ainda hoje fui ver o «A Mulher que Morreu de Pé», retrato docu-ficcional bem afoito de Natália Correia. Do cinema brasileiro, vi muito recentemente o «Manas». Vale a pena; creio que ainda anda em exibição.
ResponderEliminarEstou aberto a colaborações. :)
Quero muito ver esses dois! Quem sabe um dia concretizarmos essa colaboração...
EliminarÉ só dizer quando; abrimos um estaminé para ensaiar umas palavras sobre cinema. Até pode ser este o título do blogue, umas palavras sobre cinema. :)
EliminarSim, é um bom título...pouco pretensioso. Que tal janeiro 2026? Ano novo, blogue novo:) (e estou a precisar aqui de um tempo para poder corresponder). Vou pesquisar se tem o e.mail disponível no blogue e depois escrevo-lhe.
EliminarObrigada Diogo pelo desafio!