Nunca fui uma fã de televisão, talvez por ter passado a minha infância sem ela, a adolescência também não me agarrou, tão ocupada que estava a explorar um mundo que pouco a pouco ia conseguindo alargar. Tão grande que era...
Passei incólume pela febre das séries e pelas plataformas pagas a que quase todos aderiram, nunca tive nenhuma. Quando a minha filha era adolescente víamos os episódios de Anatomia de Grey na data e hora a que passavam no canal, portanto apenas um. Recordo mais os nossos pés encaixadinhos do que qualquer episódio. Achei graça sem me deslumbrar à Casa de Papel e não fiquei ansiosamente à espera da nova temporada, nem senti necessidade de ficar madrugada fora a ver como acabava o conto de fadas moderno, uma espécie de Robim dos Bosques reinventado. A melhor série que vi até me deixar encantar foi sem dúvida The Handmaid's Tale, essa distopia sombria que parecia tão irreal quanto agora parece um assombro do que podemos vir a ter, era arrepiante e magnífica, ainda assim, talvez pela carga cinzenta, não conseguia ver mais do que dois episódios.
Mas não digas nunca. Pois é. Vi os quatro episódios últimos dos oito de Normal People de uma vez. Gostava, contudo, que não caíssem na tentação de fazer com que aqueles jovens cresçam. Quero guardá-los assim nessa sua normalidade anormal, próxima do que todos somos. Foi esse o encantamento, é que sou eu e não sou, és tu e não és, são eles e não são, há um bocado de todos nós ali. É brilhante como cada um é desadequado à vez em função do contexto em que se situa, como cada um à vez se sente inferior ao outro e por motivos bem diferentes, como cada um magoa e se deixa magoar. E a representação é tão boa que não acredito que sejam actores, são dois miúdos que foram por certo buscar à vida real. Já passou quase um mês que vi e ainda não esqueci, apesar da vertigem da vida que vivo.
Ora aí está, por vezes há calorzinho no sofá e brilho na televisão. Ou então estou a envelhecer.
~CC~
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