segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

As minhas mãos

 

O trabalho intelectual não tem forma, matéria palpável, cor ou cheiro. Angustia-me isso algumas vezes, é um pó que parece desparecer ao primeiro sopro. Tantas horas para isto, um quase nada.

Quereria ter aprendido a fazer coisas com as mãos, ver que elas seriam capazes de arranjar coisas, costurar roupas, fazer bordados, amassar pão, girar a roda de oleiro, arrancar ervas daninhas. Circunscritas ao trabalho doméstico e culinário, como me parecem desaproveitadas.

Antes da pandemia ainda lhes dava uso em pele alheia, usando-as para tocar, afagar e abraçar. Agora cada vez menos. Vai sobrar-me em mãos o que me excede na cabeça.

~CC~

8 comentários:

  1. mas usas para traduzir o que vai na cabeça... é um excelente uso, parece-me :)

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  2. Trabalho intelectual é a mão do pensamento; nada de a menosprezar, CC. Pelas razões que apresenta, admiro quem a ele se dedica. E, se há parte do corpo a que se dá muito uso e com o rodar dos anos fica bastante desgastada e outra, são as mãos. Sem elas o que seríamos. Ainda que desajeitadas, são capazes de carinho e da maior ternura. Algumas trabalham arduamente, gretam, enchem-se de feridas e cicatrizes, criam calos e deformam. Tenho por elas infinito apreço. Há mãos benévolas, que havemos de lembrar sempre. Em alguma hora de proximidade nos entenderam.
    Quanto à época que atravessamos, não uso de restrições e as minhas mãos fazem o de sempre.

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    1. Sério Bea? As minhas mãos não são as mesmas neste tempo de pandemia...ou se calhar é o meu coração...ou as duas coisas...ou outras mais?! Nem sei bem, talvez tudo afinal já antes tivesse começado a mudar...mas numa coisa estou consigo: mãos são uma coisa muito bonita.
      ~CC~

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  3. O Manel falou e tá falado. Eu, concordo plenamente.

    Olhe de mais perto, e vai ver que as suas mãos fazem muitíssimo mais do que pensa.

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    1. Estou aqui a olhar para elas e para umas quantas queimaduras resultantes do pouco cuidado com o forno...a ver se as valorizo, obrigada:)
      ~CC~

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  4. É sempre tempo de aprender. Para as mãos também. E agora até há workshops de tudo e mais alguma coisa. é só escolher. :)

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    1. Verdade Luísa, contudo...serão como as dos analfabetos quando pegam num lápis e procuram desenhar letras...
      ~CC~

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