quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Mais quietos

 

Adoecem as pessoas, mistura de corpo e alma feridos. 

Muitas vezes aquilo que deveria ser a fonte do seu bem estar, o seu trabalho, é afinal a fonte da sua dor, mal estar e insegurança. São inúmeros casos e não quero dar-lhe nomes finos e importados, teremos as nossas próprias palavras para designar a humilhação a que muitos são sujeitos, fazendo-os crer que valem pouco, quer seja no início, quer seja no final de anos de profissão. Sempre a tentar que as pessoas se sintam umas sortudas apenas por terem trabalho. E nem falo das nossas baixas renumerações, o meu olhar incide sobre o que é feito para incluir a pessoa, apoiá-la e fazê-la sentir bem no seu local de trabalho, aquele onde se passa mais de metade da vida.

Vejo por isso com grande satisfação este movimento que avança como uma espécie de revolta silenciosa contra o "vestir a camisola" que imperou durante décadas. Afinal quem vestia a nossa camisola? Quem se punha no lugar do trabalhador, agora designado como colaborador pelas teorias da gestão soft. Quiet Quitting foi traduzido por "demissão silenciosa", parece-me má tradução, mas percebo a ideia. Sofri desse mal estar de estar disponível quase 24 horas por dia e só muito recentemente aprendi a não ver mails de trabalho à noite. Vejo muitos outros, cuja recompensa foi nula. Aposto assim que as novas gerações vão estabelecer os limites que a minha não conseguiu colocar. E ainda me sinto a tempo de aprender alguma coisa.

~CC~



6 comentários:

  1. Pura verdade !
    Estarei nessa luta, pela dignidade no trabalho
    Acredito na nova geração de trabalhadores, gostava de acreditar numa nova geração de empresários

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se não forem os trabalhadores a educá-los não sei se nascem novos lá no ninho da Nova e da Católica onde os formam nas teorias da moderna gestão (soft mas igualzinha).

      Eliminar
  2. Toda a gente que trabalha com responsabilidade e dá o seu melhor na profissão, veste a camisola. Vestir a camisola não é dar horas sem fim à empresa, nem estar contactável a qualquer momento, seja dia ou noite, para satisfazer e substituir os excessos de zelo dos empresários. Mas falta de cumprimento e entrega não geram lucro e sem ele as empresas empregadoras desaparecem.
    Sou pelo lema "vestir a camisola". Penso que o trabalho só pode trazer algum proveito ao próprio (além da remuneração) se existir entrega. Os mais jovens não vão além do horário? Muito bem. Desde que cumpram também com dignidade a função respectiva. E vale para todos, jovens e menos jovens. Do que tenho observado, nem me parece que vão mudar a versão actual do mundo do trabalho. Estão cada vez mais a trabalhar em casa, muitos sem lugar na empresa, o poder reivindicativo encurtou. Depois se verá.
    Que seja um ano produtivo e a exploração seja substituída pelo respeito. A dignidade do trabalhador importa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Registo a última e bonita frase:) É tão boa que me apetece escrevê-la nos cartazes que levamos à manifestação do 25 de abril, o ano passado produzimos cartazes em família, tão inorgânicos e desalinhados que até o Pacheco Pereira os veio fotografar.

      Eliminar
  3. Camarada, há quanto tempo andava a aguardar por este pequeno texto. Aqui estamos sempre na luta pelos trabalhadores e o povo, antigas e novas gerações unidas por mais dignidade e democracia no trabalho 💪⚘

    ResponderEliminar

Passagens