Reparei nelas pousadas duas a duas de cada lado da minha boca. São novas estas rugas. E são as que mais me custam, este adorno parece retirar a vitalidade dos lábios, tolher-me a palavra. São mais duras do que as da testa e das que estão em torno dos olhos. Atribuo a cada uma delas chatices que ultimamente me têm chegado, coisas de mal dizer que ainda me afectam e já devia encolher os ombros e ignorá-las, tenho de treinar mais e mais.
Mas na realidade é um artifício, envelheceria na mesma sem as sombras. E não me venham dizer que as rugas são bonitas e que o envelhecimento é bom. Aceitá-lo, integrá-lo, perceber o que traz de positivo é uma coisa, agora enaltecer a forma como o corpo nos deixa de responder e como o rosto perde vivacidade e cor, isso já não. Aceitar sim, como aceitamos outras coisas. Sabemos que não adianta renegar e que quem renega fica ainda pior com o seu rosto e pescoço esticado, o seu peito insuflado e inúmeros retoques que roubam a expressão. Não é o meu caminho.
Envelheci este Verão. Talvez por isso se me demore o olhar nos bolinhos de conchas e penas que ficam deixados na praia.
~CC~
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