domingo, 8 de setembro de 2019

Crónicas de Verão (VI)



Tantos anos passaram. 

As meninas são já adultas e outros meninos tomaram o lugar delas. O mais velho e único rapaz já teve filhos, as nossas meninas ainda não. Há tanto tempo que não estávamos juntos aqui. Deixámos passar alguns Verões, há sempre um vai e vem de gente e é raro coincidirmos de férias agora. 

Tudo é igual sendo já tão diferente. O senhor das Bolas de Berlim (sim, que esta praia sempre teve um único vendedor) tem agora no filho um ajudante e não as consumimos à razão de uma por dia, todos os dias. Há tantas algas verdes claras que os nossos corpos e cabelos ficam cheios delas. A água voltou a estar quente como antes, mas as ondas não eram habituais. Registamos e comentamos tudo, o que se mantém, o que mudou, o que nos agrada e o que nos desagrada. Olho-nos e não sei como resistimos a tantas coisas, algumas que nos iam derrubando para sempre. Sinto o coração cheio desta luz de setembro.

Nunca tivemos uma casa de família, um lugar para nos encontramos, o nosso território. Afinal se calhar é esta praia, é aqui o nosso lugar.  Nunca ninguém o irá herdar, a não ser que queira. E passará de geração em geração sem escrituras nem impostos.

~CC~






3 comentários:

  1. Que bom, ~CC~, ter conseguido resistir e ultrapassar tudo a ponto de poder sentir o coração cheio desta luz de Setembro.

    Fiquei feliz, pois

    "C'est en Septembre
    qu'on peut vivre pour de vrai".

    Gostaria de lhe dizer mais coisas, mas não sei como, apenas consigo senti-las...
    Beijinho


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  2. É bonito e bom haver assim um lugar de encontro. Mas é pena que não tenha casa onde morar. Mesmo que nunca fosse herança, seriam diferentes as memórias. O que se vive numa casa não é o que se vive na praia; a diferentes lugares, diferentes memórias. Mal comparado, é a semelhança entre os amores de férias e os outros.
    Boa semana, CC:)

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  3. Maria, sentir, é essa a palavra chave. Às vezes parece-me que as pessoas já não o fazem, é tudo um enorme "faz de conta".
    Bea, sim, em parte tem razão. Mas quando vejo as famílias em conflito por heranças, perdendo essas casas de família em disputas sem fim, penso que afinal uma praia chega:)
    ~CC~

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