quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Dezembro



O cansaço produz tanto vazio. E uma certa insensibilidade ou rudeza ou tristeza. Lembro-me de no ano passado ter passado entre as barraquinhas de madeira da feira de Natal e achar aquilo bonito, enquanto agora me pareceram acanhadas, despidas de encanto, mera imitação de qualquer outra coisa num outro país que não o nosso. A árvore de Natal é igualmente feia, durante o dia uma pirâmide de metal enorme, a atrapalhar o passeio e a ultrapassar a copa das verdadeiras árvores, essas sim, bonitas. E uma pergunta terrível a congelar alma: para quê todo este lixo? E logo outra: será que isto vai passar-me? Será que um dia me encanto outra vez? 

Só me apetece o silêncio do campo, essa noite grande de estrelas, essa manhã de acordar lento, esse chá que pode beber-se ao pé da lareira.

Ou o mar de Inverno, essa praia despida onde se pode conversar com as gaivotas.

~CC~

11 comentários:

  1. Hoje não estou de molde a comentar a primeira parte e responder às questões.
    Mas sempre lhe digo que preferia a noite campestre e o chá. Parecem-me mais consentâneos com a época. Suponho que nesta altura até a visão do mar me gele os ossos:).
    Boa noite, CC. E quem sabe, para o ano volta a encontrar encanto na feira de Natal

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  2. Sabe que, também eu, não encontro nos natais de hoje o encantamento, a alegria, o cheiro dos natais mais antigos. Que também não acho graça nenhuma nessas estilizações modernas da árvore e dos ornamentos.
    Nem o meu 1º natal em Luanda me deixou tão desapegada e sem graça (garota, não achei piada a um natal com calor, mas foi só no 1º ano :-). Hoje, trocava com muito agrado.

    Boa noite

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    1. A indústria do Natal pode ser muito pirosa...para já não entrar noutras questões:)
      Natais em Luanda - toda a minha infância, que saudade do frango assado picante comido no quintal!

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  3. Há dias assim CC, é tudo triste à nossa volta, e aí chegados só pode melhorar...
    Um cházinho quente a meio da manhã, um brilhozinho nos olhos de uma aluna ao ler na profundidade dos seus, um encontro agradável e inesperado à hora do almoço, um gin tónico pela tardinha...
    Concordo com a Bea, nesta época está-se melhor no campo ou à lareira. Todavia, como sei que adora o mar aqui vai uma passagem:
    "Só se olha o mar quando se procura alguma coisa naquele vazio todo, e quando se procura alguma coisa no meio do vazio é porque, de alguma maneira, se está triste, ou a precisar de alguma coisa que não se vê onde costumam estar as coisas mais ou menos presentes na nossa vida.” in Crime em Ponta Delgada de Francisco José Viegas.
    E ainda... para afastar a tristeza e no seguimento da nossa conversa de ontem sobre encontros gerados por algoritmos, a piada que ouvi ao Bruno Nogueira: "Os meus pais quando querem falar, comunicam através do Tinder" :)
    Tenha um bom dia.

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    1. Posso?...Boa tarde.
      Joaquim, discordo de Francisco José Viegas, há quem olhe o mar apenas com deleite e não pense que ele é apenas "aquele vazio" de que fala o escritor. Para mim, que muito vivo longe dele, é deleite do estio. No inverno, mais me parece beleza terrífica, abismal, apavora-me a sua alterosa exaltação.
      Tenho que ir googlar o Tinder, estou a desactualizar com muita força:(.
      Boa tarde para ambos. Força CC!, por incrível que possa parecer, se estamos vivos é porque fazemos falta.

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    2. Sim Bea este do FJV é diferente do seu. Este achei mais adequado ao dia da CC, até por ser Dezembro com tempo tenebroso. O seu é um mar plácido de estio com a espuma da água a vir lamber-lhe os dedos dos pés nos seus passeios à beira-mar, enquanto a mente divaga por coisas agradáveis.

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    3. Obrigada Joaquim, eu gosto do mar em todas as estações do ano.
      Obrigada Bea, compreendo que goste mais do mar no Verão. O Tinder é a aplicação da moda para TM para promover "encontros" com base nos algoritmos que se baseiam na semelhança de gostos e estilos de vida entre pessoas, mas acho que também aparece a imagem da pessoa, ou seja não é só pela personalidade que a coisa se dá. Enfim, nem sei o que lhe dizer...apenas que me surpreendi por pessoas que conheço a usarem mas gosto quando as pessoas assumem o que fazem.
      ~CC~
      ~CC~

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    4. Obrigada pela informação CC, é que até me esqueci de ir ver o que era o tinder:).

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  4. O nosso estado de espírito reflecte-se sempre naquilo que vemos, e a tristeza impede-nos de ver a beleza das coisas.
    Todavia, existem coisas tão belas (como um mar alteroso no inverno ou uma starry night) capazes de nos comoverem de tal modo que até conseguem varrer todas as tristezas e cansaços.
    Espero que "tropece" num momento assim rapidamente, de preferência bem acompanhada:))

    Dias felizes, ~CC~.
    🌳
    Maria

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    1. Tenho que acabar a coisa, derrotar "o mostro".
      Depois vou à procura desses momentos, eles que me esperem:)
      ~CC~

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