terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Paladares



Eles abrem o meu armário da comida e activam a sua costela de detectives, a maior parte das vezes rendem-se e têm que me perguntar o que é. É verdade, sou intensamente atraída por coisas estranhas, ainda que amarrada às tradições culturais dos países e continentes por onde passei. Não encontrarão assim carne de morcego, formigas fritas ou compota de aranhas. As amarras culturais colocariam-me assim menos em risco face a vírus alojados em carnes estranhas como as que se vendem no mercado de Wuhan. Parece incrível que tudo tenha começado assim, com uma cobra ou um morcego. Mas como posso não compreender?! Eu sou aquela pessoa que pediu um gelado de mucua num sítio onde nem devia comer gelados, quanto mais de uma fruta local desconhecida. Acho que aí aprendi a lição, uma salmonela inesquecível que quase me levou deste mundo.

Tornei-me uma aventureira com muitos limites, os culturais e os da minha condição física. Ainda assim estou maravilhada com as flores de hibisco cristalizadas que comprei, com a sua cor e formato, são tão belas que não sei se algum dia as provarei. Já da pasta de tamarindo consegui provar um bocadinho e gostei, tem exactamente o sabor da minha infância, mas tenho receio de a consumir pois comprei-a num sítio um pouco duvidoso. Gosto também das comidas tradicionais, torço o nariz aquelas coisas que me parecem sem história, pelo menos para nós, tais como bacalhau com natas ou strognoff de frango. Tenho uma embirração solene com carne picada. Mas regresso a casa com as minhas papas de aveia matinais, é claro que, para além do limão e da canela lhe acrescento gengibre em pó, apenas para as tornar minhas.

~CC~

4 comentários:

  1. Desculpe CC, se saio da temática central - sabores e paladares - para me ocupar de outra que também aborda mas "a latere" - o risco da vida.
    Quando vimos ao mundo não trazemos manual de instruções, nem nosso nem do mundo que nos acolhe, portanto, a partir desse momento, do momento que abandonamos o conforto do útero materno, começa o risco. Especialmente para nós, mas também podemos ser um risco potencial para os outros!
    Creio que a maioria pensa que gosta de correr riscos calculados; uma coisa assim não radical, com sabor a aventura, não em medida desmedida, com uma pitada de sal, mas sempre sem perder o pé, sem cair no abismo.
    Mas também há gente que diz peremptoriamente que não, como o antigo seleccionador português, Luiz Felipe Scolari afirmava: "Os riscos que não são de calcular, que são de aventura, não são comigo" - por isso perdemos a final do Euro 2008 realizado em Portugal, com a Grécia.
    Eu, que não sou diferente dos demais, também julgo que gosto de viver a vida com um poucochinho de risco (desde que sejam calculados) ou como diz o provérbio, quem não arrisca não petisca e tendo sempre presente o eufemismo que a sorte protege os audazes.

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    1. Concordo Joaquim, prudência a mais gera monotonia e não nos enriquece, risco a mais causa desequilibro e potencial mal estar.Também tento caminhar entre os esses opostos.
      ~CC~

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  2. Paladares era uma espécie de rebuçados que se compravam nuns pacotinhos e tinham papeis coloridos a embrulhá-los. Eram brancos e não muito duros. Nós gostávamos bastante deles mas quase nunca os víamos à venda. Não eram exóticos, nem tinham nada de especial.
    A CC é um pouco dada ao exotismo alimentar:). Não me faz qualquer diferença comer strognoff de frango ou outro prato de igual teor desde que me saiba bem, a história da alimentação não me perturba as papilas. Mas também é provável que os meus gostos alimentares se devam em parte ao meu sedentarismo.

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    1. A sério?! Não conheço tais rebuçados e estou certa de que se têm história e tradição havia de gostar deles, mesmo sem exotismo. Mas o Alentejo é um riqueza de sabores, gosto de quase tudo o que é típico aí (às vezes salgam um pouco)...e nem preciso de colocar gengibre:)
      ~CC~

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