segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Volta ao quarteirão

 

Acusou muito cansaço, podia sentir-lhe o coração a bater mais rápido. Há mais de um mês que não saia.

Mas conseguiu dar a volta ao quarteirão, num passo muito muito lento, enquanto lamentava a cidade vazia que ainda não tinha sentido, não é que não acreditasse em mim, mas precisava de ver (não obstante ver para ela seja um verbo usado com muita tristeza, dada a perda gradual).

Desta vez, apesar dos meus poucos contactos com seres humanos, usei máscara e nunca fiz as refeições com ela, esta última parte custou-me bastante. Depois da videochamada com as netas que menos vê, ainda me disse que gostava de ter um facebook e se eu lhe podia fazer um, assim como o meu (inexistente), que trouxesse assim as pessoas a casa em ponto grande.

A resiliência dela é sempre uma coisa com a qual me espanto.

~CC~



10 comentários:

  1. Aqui é um pouco diferente, nem um quarteirão temos. E hoje o vento NW estava um gelo, até a mim me custou ir aos ecopontos.
    Ao lanche, dei por mim, armada em professora de literatura, a contar-lhe a origem da frase do Orwell sobre a igualdade dos homens, a ela, que nunca leu Orwell. Foi giro contar-lhe o triunfo dos porcos sobre os outros animais da quinta que (pobres tontos) pensavam que iam mudar de vida para melhor - e ver que ela percebeu tudo.
    E os porcos continuam a triunfar por todo o lado, a ser mais iguais que os outros.
    Por acaso nunca li o livro em português, ainda tenho o Animal Farm comprado em fins dos anos 70, mas a primeiro tradução do título em português é genial, não a deviam ter mudado.
    Hoje consegui 'agarrá-la' mas cada vez é mais difícil; até para mim está a ser mais difícil manter alguma sanidade mental.
    CC arranje lá o Facebook para a sua mãe (a minha nem sabe o que isso é, e eu nem sequer conta tenho).
    Beijinhos e abracinhos da Beira
    Interior para o Reino dos Algarves (ou onde quer que estejam).
    🤗🤗

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    1. Li-o lá muito atrás, na fase da leitura dos grandes "clássicos" e não voltei a ele. Eu também não uso FB Maria, não tenho tempo nem, por ora, vontade. Reino dos Algarves muito chuvoso, aqui faz falta, mas estranha-se.
      Beijinhos
      ~CC~

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    2. A Natureza está zangada connosco :-(
      Agora estou a ver uns pedacitos de azul mas têm sido uns dias terríveis.

      Bons mergulhos! 😂

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    1. Ana, demorei muito a perceber isso, o que tinha a aprender...
      Hoje já consigo.
      ~CC~

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    2. eu também, CC, muito tempo, mas creio que ela também aprendeu a ensinar-me o que preciso aprender com ela, comigo.
      Abraço forte :)

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  3. E um facto, os mais velhos, por vezes, são exemplares.

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    1. Certo é que lidando com jovens e com velhotes, eu acho os primeiros bem mais ansiosos e débeis do que os segundos.
      Cuide dos seus Bea.
      ~CC~

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  4. Às vezes penso nisso, será que daqui a uns anos os nossos filhos nos vão ver como nós agora vemos os nossos pais?
    Creio que não, e o defeito só pode ser meu, porque não soube ou não pude educar melhor.

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  5. Joaquim, eu só penso em não dar grande trabalho à minha filha que por culpa minha é só uma. Infelizmente acho que já lhe causei um susto muito grande, mas...não pude fazer nada. Eu acho que cuidarão de si sim e que pouco a pouco saberão valorizar o que tem para dar, a propósito já partilhou com ela os seus dotes literários?
    ~CC~

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