O homem equilibrava-se num passo de quase dança, depois lançava um braço num desenho no ar e atrás dele ia a mão, ele ficava a olhar para ela, apanhava o balanço para rodopiar. Estava sozinho, encerrado no seu próprio labirinto, os outros pouco lhe interessavam. Fiquei a vê-lo, fascinada. Talvez tivesse sido bailarino no tempo em que a sua vida era como a nossa, com uma casa, um emprego, uma família. Agora é um homem da rua, nome que prefiro a sem abrigo.
E fiquei a pensar nessas três coisas que definem a vida do comum dos mortais, tão triviais, banais e que nos parecem a maior parte das vezes tão pouco dignas de nota. E, contudo, são pilares, nelas nos equilibramos por muito que por vezes nos gerem desequilíbrio.
São reflexões de transição, esta não é para mim uma época de festa. É sempre de introspecção. O champanhe, o fogo de artificio, a festa, tudo isso é um ritual que não acompanho com facilidade, tenho tendência a ficar de fora a observar, talvez porque o que eu queira mesmo é observar-me, analisar-me, procurar o caminho do que quero deixar e levar comigo. Se eu fosse um bicho estaria agora a hibernar ou a mudar de pele. Por certo a atravessar o longo silêncio do solstício de Inverno rumo a um fogo onde se irá consumir o que quero deixar para trás e abraçar o que quero levar para diante.
Afinal eu e o homem da rua não somos assim tão diferentes, só queremos equilibrar-nos, dançar sem cair.
~CC~
Nota: Um abraço a todos os que rodopiam nesta rua e um bom ano.
Não rodopio, mas por vezes ando num corrupio; é menos bonito, falta-lhe arte, fica-se pela terminação.
ResponderEliminarIgnoro se gosto de lhes chamar uma coisa ou outra, sei que gostaria que essas pessoas não existissem (também há mulheres). E são cada vez mais.
Havemos de vir aqui volatilizar as nossas palavras, soprá-las ao vento digital. Eu. A CC. E tantos quantos.
Oxalá Bea, que não nos falte saúde e haverá palavras trocadas:) Bom ano!
EliminarFestejamos o quê? A possibilidade de tudo ficar na mesma, ou pior?
ResponderEliminarUm abraço.
A festa habita o lado inconsciente das coisas, é deixar-se ou não ir. Não vamos porque somos meio caturras ou demasiado conscientes (quiçá melancólicos). Ainda assim gosto da alegria, estou muitas vezes alegre, com uma espécie de luminosidade interior que só nos últimos anos conhecei...outras vezes, com coisas pequenas da vida. Bom ano, haja nuvens brancas:)
EliminarO titulo soa como uma declaração poética e profunda.
ResponderEliminarO solstício muitas vezes simboliza um ponto de virada, um tempo de mudança e reflexão. A imagem de dançar sem cair representa a capacidade de continuar e encontrar alegria apesar dos desafios e inseguranças na vida.
Obrigada por vir descortinar sentidos! Um bom ano para si.
EliminarAnalisar textos é a minha profissão.
EliminarEspero que 2025 lhe traga um clima festivo.