domingo, 17 de dezembro de 2023

Advento (XV)

 

Vive ainda hoje em mim a forma como me era tolhida a alegria deste tempo, o esforço que tinha que colocar em cada coisa para que ela fosse aprovada ou pelo menos não fosse rejeitada, acho que o medo me acompanhava à medida que cada dia se aproximava mais. Em pequenas coisas consegui avanços, bocados de luz, árvores de Natal interactivas que inventei, corredores de paz por onde entravam as crianças, depois já adolescentes e por fim adultas. Às vezes até parecia haver algum entusiamo na colaboração ou era eu simplesmente a ver pequenas vitórias, a valorizar o calor do beijo. Mas nunca consegui descontrair e ainda ando a aprender, talvez nunca recupere em pleno, pois nem sempre conseguimos voltar a ser quem éramos, talvez uma parte se tenha perdido para sempre no caminho. 

~CC~

2 comentários:

  1. Não sei que lhe diga, CC. Decerto deixámos muita pele lá atrás. Todos nós. Mas, enquanto algo de infância se recupere neste tempo, um bocadinho vale por tudo o que já fomos. Porque voltar atrás não é possível e nem o quereríamos, que a pele que se deixa na beira do rio, não pode voltar a vestir-se como propõe o mito; seguiu na corrente, desintegrou, sabe Deus onde pára e o que é. Mas, pelo que li, nunca viveu este tempo de Natal, o nascimento de um Deus - mesmo que não seja o nosso Deus - que vem ao mundo para consolar e amar os pobres e os inocentes, para expulsar os vendilhões do templo, para fazer da água vinho a pedido de sua mãe e ainda que não tenha chegado a hora de ser Deus e se presume que fosse apenas homem a divertir-se num casamento, um Deus-homem que morreu atrozmente e pregou o amor e a fé (que é na mesma um amor), isto me bastaria para celebrar com alegria a data em que tal pessoa, homem e Deus, veio ao mundo. E alegra-me que tal ser tenha existido por amor, tendo a humanidade por objectivo.
    Há dúvidas sobre a sua existência? Ora, de tudo se duvida antes de aceitar, não é o que a filosofia ensina?! O caminho dos homens é o da dúvida. Porque a fé, é efectivo, move montanhas. Mas nunca tal se viu.
    E ora bolas, já estou noutro assunto. Que é o mesmo. Ver Deus nos outros torna-se cada vez mais complicado; mas é possível. O que não podemos é querer fazer do homem um Deus. Digo eu.
    Boa noite

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  2. Eu de Deus não sei nada. Por breves momentos devo ter tido a fé dos aflitos que é uma fé por interesse próprio, mea culpa. Respeito o seu sentir sem o sentir.

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