quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A possibilidade infinita

 

Tu e eu ali no jardim, nos nossos 16 anos.

Mas ela tinha longos cabelos encaracolados presos e era muito magra. E ele, menos caracóis do que tu. Esperou-a no meio do jardim antes de darem as mãos e seguirem para a escola.

Ela disse: não tive tempo de lavar o cabelo hoje, trouxe-o atado.

Era um lamento.

Ele disse: eu tomei banho, lavei o cabelo e até coloquei creme, tudo para ti.

Estava obviamente orgulhoso.

Nunca diríamos estas coisas. Não eras tu, não era eu.

A única coisa igual eram aquelas mãos e o que por elas passava, a intensidade de agarrar o outro e com ele caminhar, todo o universo a desenhar-se em possibilidade infinita, por um momento invencíveis. 

6 comentários:

  1. Ora aí está frase que disse amiúde ao longo da vida e hoje já não posso - cabelo curto não dá para atar. Suponho que não para namorado. E no entanto, se é verão e afogo no calor, ato-o como posso.
    É tão bonito ver esse mão na mão. Eles caminham naturais e nem dão conta da nostalgia que se nos demora no olhar.
    Boa noite, CC.

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    1. Ai, o meu está tão comprido...bem tento convencê-las a cortá-lo, da próxima tem que ser! Não sou saudosista, mas há muita já nostalgia que se enrola no envelhecer. Bom fds!

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  2. As mãos a falarem nesses momentos dizem coisas para as quais não existem palavras. Só temos consciência disso muitos e muitos anos depois.
    Um abraço.

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    1. Encontramos sempre mais palavras para o passado do que para o presente...

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  3. Memórias que ficam...
    Sempre usei cabelo conprido e não me sei ver com ele curto.
    As mãos "falam" e também sabem acariciar os cabelos.
    Gostei desta dissertação.
    Tenha uma boa semana com paz e saúde.
    Deixo um beijo.
    Obrigada!
    :)

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    1. Olá Piedade e obrigada por vir e pelo beijinho, devolvo. Curioso chamar-lhe dissertação, realmente nunca sei que nome têm os meus textos e os leitores chamam-lhes diferentes coisas...

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